MadCurioso: Mulheres samurai


Os samurais são conhecidos no mundo todo. Foram grandiosos guerreiros e muitos se tornaram lendas. Infelizmente eles deixaram de existir já faz um bom tempo. No entanto, o que ninguém quase revela é que também existiram mulheres samurais conhecidas comumente como "onna-bugeisha". Erroneamente nós associamos esse termo samurai à imagem de mulheres independentes e forjadas para a guerra (tipo a Xena, entendeu?rs). Não era bem assim e explicarei mais adiante.

Elas lutavam em batalhas ao lado de homens durante o período feudal no Japão. Eram conhecidas e admiradas por serem extremamente leais e corajosas. Era exigido delas que aprendessem a lutar pelo sentimento de vingança e que não tivessem medo da morte.


Mas quem eram essas mulheres?

A maioria eram esposas dos próprios samurais, mas as viúvas e filhas de famílias nobres também eram requisitadas, ou seja, eram mulheres que pertenciam à alta classe e principalmente à classe bushi (guerreira) cujos maridos ou pais eram samurais e por isso elas cresciam e aprendiam sobre a arte da guerra.

Como elas chegavam a se tornar samurais?
A coisa toda começou porque em tempos de guerra o samurai saía para guerrear e a mulher tinha que assumir toda a casa, as plantações e ainda garantir um estudo de qualidade para os filhos. Mas em certos momentos, muitas se viram obrigadas a lidar com situações tensas em que tiveram que garantir a defesa de seus territórios e de sua família enquanto o samurai estava fora. Por sorte, elas eram treinadas o suficiente e muitas carregavam adagas nas mangas que poderiam ser lançadas facilmente de forma mortal. Quando elas passaram a usar outras armas, a coisa começou a ficar realmente feia pro lado dos inimigos. Algumas possuíam habilidades tão incríveis que eram requisitadas nos campos de batalha para lutarem ao lado de seus maridos. Antes, as mulheres japonesas eram vistas apenas pra procriação e quando começaram a lutar se tornaram extremamente importantes, inclusive são admiradas até hoje pela cultura e história do Japão.


A principal arma utilizada era uma espécie de espada curva fixada numa haste e era chamada de Naginata. É basicamente uma lança com uma lâmina de espada na ponta. Uma das vantagens dessa arma é que podem ser dados golpes de longo alcance, o que ajudava muito para atacar cavalos de saqueadores por exemplo. Homens montados em cavalos eram muito difíceis de derrubar com arco e flecha ou espadas, por isso a Naginata se tornou essencial. Outra vantagem é que não é necessária muita força para aplicar o golpe, principalmente os famosos e mortais golpes circulares. Apesar da longa haste, ela também era utilizada a curta distância para manter a guerreira próxima dos combatentes, mas a real eficácia só se dava pela habilidade da guerreira que a usava, já que peso e força neste caso não faziam diferença. Para se ter uma ideia da importância da coisa toda, no período Edo escolas se especializaram em ensinar a arte da Naginata a mais mulheres do que homens e por isso essa arma ganhou essa fama de ser mais utilizada por elas. Mas nem tudo é um mar-de-rosas e a Naginata era péssima pra ser usada em florestas ou lugares fechados. Arco e flecha, além de espadas e adagas também eram utilizados.

Um campeonato mundial de Naginata sendo disputado por duas mulheres. Dá pra ver que era uma arma bem traiçoeira e chega a ser difícil ver pra onde ela está indo até que golpeia a outra garota.

É interessante ressaltar que já naquela época a mulher japonesa tinha a obrigação de ser subserviente ao homem e tinha certas obrigações como cuidar de sua beleza, cuidar da casa e criar os filhos. Já a onna-bugeisha era mais ou menos o contrário: vivia num campo de batalha, guerreava com qualquer um e vivia armada até os dentes, mas dizem as más línguas que nem todas deixavam de cuidar da sua beleza mesmo no campo de batalha. Algumas chegaram até a liderar seus próprios clãs. No entanto, as que ficavam em casa cuidavam da beleza e se vestiam muito bem, mas ainda sim portavam armas.

Hangaku Gozen vestida com suas melhores roupas e portando sua arma ao mesmo tempo.
Para se ter ideia da bravura dessas mulheres, aí vão alguns exemplos lendários:

Tomoe Gozen com sua Naginata.
=> Os demônios que se cuidem! - Minamoto Yoshinakaera era líder do clã Minamoto e tinha uma esposa chamada Tomoe Gozen (1157–1247 dC - Gozen é uma espécie de título que seria equivalente a "senhora/dama/lady"), uma mulher conhecida pelas suas belíssimas feições, pele branca e cabelos longos. Durante a batalha Awazu contra o primo do Minamoto, o Yoritomo, Gozen passou pelas tropas inimigas, se jogou em cima do mais forte guerreiro, o derrubou do cavalo, imobilizou o cara e arrancou a cabeça dele fora! Alguns diziam que até os demônios fugiam dela, porque a pé ou à cavalo, a mulher era um perigo real! Infelizmente seu marido morreu em uma batalha alguns anos depois e o final de Gozen é incerto: alguns acreditam que ela tenha morrido em batalha também, outros dizem que ela desertou e outros dizem que ela virou sacerdotisa.

Imperatriz Jingu
=> A grande conquistadora - Uma imperatriz chamada Jingu (169-269 dC) se revoltou com a morte de seu marido, o imperador Chuai durante uma batalha. Puta da vida Revoltada, ela se tornou uma das mais épicas samurais da história do Japão ao ter culhão empunhar suas armas e inspirar uma mudança econômica e social ao invadir a Coréia em 200dC. Apesar de tudo, a lenda diz que ela invadiu a Coréia sem derramar 1 gota sequer de sangue. É difícil de acreditar nisso, mas não que ela foi uma baita guerreira a ponto de conquistar a Coréia sozinha. Ah e ela só regeu o Japão naquela época porque o seu filho era criança ainda.

Hangaku Gozen
=> Vai ter sorte assim na China no Japão! - Depois de perder uma guerra do clã Taira, Hangaku Gozen (também conhecida como Itagaki) liderou 3mil soldados para defender o Forte Torisakayama contra um exército de 10mil soldados do clã Minamoto liderado por um tal de Kamakura (isso foi depois que o marido da Tomoe Gozen morreu). Infelizmente ela perdeu mais uma vez e foi atingida por uma flecha. O Xogum ordenou sua morte por seppuku, mas um soldado se apaixonou e conseguiu uma permissão para se casar com ela. Bem, eles tiveram uma filha e viveram felizes para sempre. Foi por pouco hein Itagaki!

Yamakawa Futaba
=> A samurai ativista - Filha e esposa de samurais, Yamakawa Futaba (1844-1909 dC) foi requisitada para lutar em defesa do Castelo Tsuruga contra o exército imperial. Infelizmente eles foram derrotados e todos cometerem seppuku, exceto ela. Mas Futaba não sossegou não, ela continuou lutando num movimento pela melhora na educação das mulheres japonesas, mas aí era mais pro lado da política do que pra guerra, né?

Nakano Takeko (foto tirada um pouco antes da batalha de Aizu)
=> Perdendo a cabeça - Outra filha de um samurai chamada Nakano Takeko (1847-1868 dC) era mestre e instrutora em artes marciais. Dominava uma Naginata como ninguém e batalhou com ela. Durante a última batalha de Aizu, Takeko de 21 anos de idade liderou um exército de mulheres samurais contra o exército imperial em 1868. O problema é que nessa época já existiam armas de fogo e ela foi atingida por uma bala. Vendo que ia morrer, ordenou â sua irmã Yuko que honrasse sua morte ao decapitá-la para que o inimigo não a capturasse. Yuko assim o fez e enterrou sua cabeça sob uma árvore no Templo Hokaiji. As outras samurais continuaram lutando até a morte. Infelizmente foi essa batalha que garantiu que o Imperador retomasse o poder total sobre o Japão e acabasse de vez com os samurais.

A parte triste da história é que as mulheres samurai tinham o costume de cometer suicídio, o sepukku (é como o harakiri, mas destinado apenas a samurais e era assistido por outras pessoas) quando e se o seu marido e família fossem desonrados ou se o seu marido o cometesse. Algumas cometeram em protesto às injustiças. Outra coisa lamentável é que muitas dessas mulheres nem sequer tiveram um registro histórico e, portanto, especula-se que tenham existido muito mais mulheres samurais do que se imagina. Só nos resta imaginar os feitos heroicos que elas fizeram e que ficaram esquecidos sob milhares de anos de história do passado.

Tomoe Gozen em seu "alazão".


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