MadCurioso: A arte do Ventriloquismo
Você certamente já viu um boneco de ventriloquismo por aí. Quem foi criança nas décadas de 80 e 90 certamente lembrará do famoso boneco "Sinforoso" do episódio "Ventrilouco" do Chapolin Colorado. Alguns podem ser bizarros e outros muito fofos, mas ventriloquismo é uma arte!
Apesar de nós o conhecermos atualmente como um espetáculo inocente, sua origem é bastante bizarra. Ao que se sabe, tudo começou com os egípcios, mas o gregos praticavam a chamada gastromancia que era uma forma de necromancia. Necromancia é a prática de falar com os mortos e se você quiser saber mais, visite a postagem sobre este assunto que já publicamos aqui. Clique aqui para vê-la. Os gregos faziam a gastromancia de modo que parecia que a voz do morto provasse que seu espírito estava presente e assim poderia dar informações sobre o futuro, por exemplo, mas não usavam bonecos. Um praticante famoso foi Eurycles de Atenas que se dizia um "profeta da
barriga". Este termo surgiu porque acreditava-se que a voz misteriosa
viesse da barriga, mas calma que você já vai entender porque eles diziam isso. Outro praticamente famoso foi a sacerdotisa Pythia do Templo de Apolo
que supostamente era uma mensageira do oráculo de Delfos. Ela foi tão
famosa que em algumas bíblias judaicas e cristãs algumas as passagens
que se referem à necromancia tem o termo Python ao invés de
gastromancia.
Gravura de Pythia consultando o oráculo de Delphos através da gastromancia. Imagem original num vaso grego. |
Gravura refeita com mais qualidade. |
Esse ritual se seguiu até a Idade Média, onde foi considerado feitiçaria e portanto, bem, você sabe, condenado. Com a chegada do século XVI (16, criatura!), essa prática mudou de cara aos poucos e começou a virar mais um espetáculo circense e teatral.
Mas afinal o que é o ventriloquismo?
Pode ser definido como a arte de projetar a voz fazendo com que o som pareça sair de outro canto que não seja a boca. Atualmente ela é direcionada a bonecos.
Como isso é possível?
O ventriloquo manipula as suas cordas vocais de tal maneira que o som sai praticamente perfeito mesmo sem o movimento labial ou pelo menos com pouco movimento labial. É uma questão de controlar a pressão do ar: se for solto lentamente, dará mais efeito à ilusão. Por isso na Grécia antiga, quando o ventríloquo falava e parecia que a voz saía do estômago, eles acreditavam que eram espíritos de mortos que moravam na barriga do cara. Inclusive o nome ventriloquismo tem origem nisso: estômago – venter (barriga) e loqui (falar). A língua também tem o seu papel, mas deve se mover bem pouco.
Profissionais desenvolvem não só a habilidade de falar sem mexer a boca, como também de não perder o fôlego já que tem que conversar com o boneco com sua voz normal para dar mais efeito à ilusão. Eles também conseguem mudar o timbre da voz e fazer as vozes de 2 ou mais bonecos sem muito esforço. O show ainda pode incluir bonecos sentados tradicionalmente no colo do artista ou distantes e o ventríloquo consegue fazer a voz do boneco parecer distante ou abafada, caso ele esteja dentro de uma caixa por exemplo. Como eu disse, é tudo questão de saber controlar a pressão do ar com o diafragma e mexer a pontinha da língua. Um segredo é que quando o ventríloquo tem que fazer o som da letra B, ele acaba mexendo mais a boca e por isso o boneco faz movimentos repentinos e extravagantes afim de distrair a atenção do público para longe da boca do artista. Dizem as más línguas que um ventríloquo ao ver uma carroça cheia de feno passar, fez uma voz abafada pedindo ajuda e as pessoas ao redor se desesperaram ao ponto de esvaziar todo o feno da carroça para encontrar o coitado escondido. É claro que não encontraram nada e o ventríloquo troll fanfarrão deve ter dado umas boas risadas.
O gênero cômico que conhecemos hoje se originou na época de vaudeville, ou seja, dos anos 1880 a 1930 tinham espetáculos diversos com uma gama infinita de gente que fazia de tudo: música, canto, dança, museus baratos, literatura burlesca, filmetes e até mesmo circo de horror. Aliás, também já falamos de circos de horror no blog, confira clicando aqui.
Nessa época, o ventriloquismo ganhou muita fama.
Jules Vernon foi marcante nesta época, assim como "O Grande Lester" que usava apenas um boneco e o costume perdura até hoje.Edgar Bergen introduziu a comédia verdadeira ao ventriloquismo e teve até um programa noturno de rádio que foi um tremendo sucesso nos Estados Unidos.
O grande Lester e o seu fiel companheiro Frank Byron Jr. |
Olha só quem virou boneco também! |
Alguns bonecos chegam a ter uma mecânica bastante complexa, mas também há os que não exigem mecânica alguma como o carneirinho (Lamb Chop) de Shari Lewis.
Antigamente eram feitos de madeira ou papel machê, mas hoje podem ser utilizadas fibra de vidro, resinas, poliuretano, látex e neoprene em sua construção. O tamanho pode variar de poucos centímetros ao tamanho real de um ser humano.
Mecanismo para acionar a abertura da boca. |
mecanismo para mexer os olhos e abrir a boca. |
Outro fato curioso é que existe uma fobia onde a pessoa tem medo de qualquer boneco, incluindo o do ventriloquismo. É a automatofobia. Tem tratamento, mas um show desses pode não ser uma boa ideia para ela.
O ventriloquismo faz partes de muitas culturas também, como a dos esquimós, maoris e zulus.
Vou terminar este post com um espetáculo hilário de um ventriloquista atual chamado Jeff Dunham e o Achmed, o Terrorista Morto. Também vou deixar alguns links para quem tiver mais interesse no assunto.
Links:
Manual rápido de ventriloquismo
Mais sobre o ventriloquismo por Yakko Sideratos
Quer ver mais curiosidades? Então veja o que já publicamos de curioso aqui!
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