MadCurioso: quem eram os druidas?



Se você já assistiu ou leu Asterix provavelmente deve conhecer o Panoramix, um druida maluco que é o único que sabe fazer a poção mágica. Mas afinal, esses druidas existiram mesmo?

Não só existiram, como muito de seus conhecimentos e rituais existem até hoje! Aliás, ainda hoje é possível se tornar um druida. Eles eram parte fundamental do povo celta que viveu há 3 mil anos atrás onde hoje é o Reino Unido, Portugal, Espanha e França. Druida na língua celta significava que era uma pessoa que tinha o conhecimento do carvalho. Você pode achar isso meio estranho, mas pra eles fazia todo sentido já que os carvalhos eram árvores muito antigas das florestas e que sempre representavam as demais. Para os celtas quem tinha o conhecimento do carvalho, tinha o conhecimento de todas as árvores e isso significava que era uma pessoa muito sábia. 

Apesar de visões cristãs os descreverem como magos e bruxos, a realidade era um pouco diferente. Eles eram conselheiros, filósofos, juízes, médicos, cientistas, teólogos e intelectuais da cultura celta. Seus princípios era fundamentados no amor e na sabedoria. Eles veneravam a natureza e tentavam manter o equilíbrio natural o máximo possível.

A formação de um druida

Não era fácil ser um druida. Alguns dizem que era necessário pelo menos 4 anos de estudos para começar a praticar o druidismo e outros dizem que haviam druidas que chegaram a estudar por 19 anos ou mais para se aperfeiçoarem na área. Na verdade, leva 19 anos para que ocorra um Ciclo Metônico (criado pelo astrônomo grego Meton). Esse ciclo ocorre quando o calendário solar de 365 dias e o calendário lunar de 364 dias se encontram e dois eclipses idênticos ocorrem. Para algumas tribos celtas era o prazo ideal. Você pode achar tempo demais, mas pense bem: os celtas não usavam a escrita e sim a oralidade para transmitir os conhecimentos de um para o outro. Agora me diga: quantas aulas da faculdade você lembra? Aquelas aulas em que o professor falava e falava sem parar? Pois é…e você só estudou por uns 4 anos (ou mais).


Há uma tríade druídica que diz:

“Três deveres de um druida:
curar a si mesmo;
curar a comunidade;
curar a Terra.
Pois se assim não fizer, não poderá ser chamado de druida." 

Quando eles dizem curar não significa apenas curar doenças, mas reflete num sentido muito mais amplo da palavra, quase como cuidar, preservar, zelar. Portanto sabemos que eles não só tinham que saber venerar a natureza, como também tinham que aprender a cuidar uns dos outros, a cuidar da sociedade e de si mesmo. Isso representava o equilíbrio perfeito.

Acredita-se que na ilha de Anglesey (Ynis Mon, em galês) havia um centro de ensino druídico, entretanto não se sabe ao certo o que era de fato ensinado. Tudo o que sabemos é que cânticos filosóficos, lendas,  fórmulas mágicas e encantamentos faziam parte da “grade curricular” de um druida. Infelizmente sem registros escritos pelo celtas e os romanos fazendo o favor de destruírem tudo da cultura celta, pouquíssima coisa foi encontrada e as lendas que perduraram por milênios sofreram tantas alterações, principalmente cristãs, que na verdade nem são muito levadas em conta como parte da cultura druídica.

Religiosos ou políticos?

Apesar do conflito entre as visões cristãs e os relatos gregos e romanos, a maior dúvida de todas permanece sem resposta: os druidas eram parte de uma religião?


Bom, alguns estudiosos afirmam que se os enxergarmos como filósofos de um idealismo referente à natureza, então podemos concluir que não eram parte de uma religião. Neste caso, eles eram os “organizadores” do ritual e não os mediadores entre os deuses e os homens. Eles podem sim ser considerados políticos das sociedades celtas. Só lembrando que político é aquele que cuida da polis, ou seja, da sociedade em que vive.

Porém se nós levarmos em conta que eles faziam os rituais e tinham todo um cuidado em venerar a natureza, então passamos a enxergá-los como religiosos. 

Práticas

Como médicos ou curandeiros, a arte da cura sempre esteve presente nas práticas druídicas. O sol, por exemplo, era visto como um espírito capaz de criar e destruir a vida, fertilizar ou destruir uma colheita, podia curar e regenerar e ainda por cima  iluminava os cantos escuros da terra.


Como filósofos eram os responsáveis por aconselhar os reis e a manter a sociedade unida. Era comum para eles homenagearem os mortos com festas dentro de casa e não no cemitério. Um destes rituais foi o “pai” do dia das bruxas (halloween). Haviam também rituais para a colheita, os animais e todos baseados em ciclos lunares e solares.

Os sacrifícios e a má fama

Claro que sempre tem que ter a parte bizarra da coisa toda, não é mesmo? Afinal aqui é o U Mad?. Os historiadores comprovaram que os druidas não só faziam sacrifícios humanos em muitos de seus rituais, como também os matavam de formas horríveis e lentas. E já não bastasse isso, eles ainda praticavam o canibalismo (já falamos disso no blog, veja aqui). Ok, os astecas também faziam isso e daí? E daí que pro Júlio Cesar, o grande imperador romano, a coisa era tão assustadora que em seus discursos pró guerra ele dizia que quem se tornasse prisioneiro dos celtas acabaria sendo devorado em algum ritual macabro. Isso correu pela Europa mais rápido do que a Peste Negra na Idade Média, acredite! O fato de alguém comer carne humana é algo que é repudiado até hoje, mas naquela época o medo era muito maior (principalmente se você fosse um soldado romano).


Visco
Corpos foram encontrados com pólen de visco dentro dos intestinos. Essa planta era sagrada para os druidas e, portanto, o achado sugeria que a causa da morte era algum tipo de ritual. Crânios esmagados, pescoços degolados e estrangulados eram técnicas constantemente utilizadas pelos druidas para abaterem seus sacrifícios.  Outra forma bizarra de matar as vítimas para o sacrifício foi descrita por Júlio César e consistia em um homem gigante de vime que em seu interior continha pessoas de verdade. Os druidas então começavam o ritual e botavam fogo no vime. César revela que geralmente eram usados ladrões e criminosos para isto, mas na falta deles ia qualquer um mesmo.


Com a chegada dos romanos tentando conquistar suas terras, os rituais se intensificaram pra valer e a prova disso foram os 150 corpos encontrados em uma caverna na Inglaterra. Com certeza os celtas estavam desesperados pra se livrarem dos romanos de uma vez por todas (onde estava o Panoramix e sua poção mágica nessas horas?).

Enfim, há quem diga que esse negócio de canibalismo e do homem de vime só foram manobras do Júlio César pra justificar a sua investida naquela região e desmoralizar os celtas, ou seja, pode ter sido uma mentira mesmo já que os romanos eram suspeitos por adorar uma violência gratuita (o Coliseu que o diga). Plínio, o velho, mencionou alguma coisa em seus escritos sobre o canibalismo, o que pode tornar o discurso de César verídico, mas há quem conteste com outras interpretações. De qualquer forma, os sacrifícios ainda eram brutais e as provas não mentem.

Os celtas e o número 3

Curiosamente parece que os celtas adoravam o número 3. Eles usavam pra tudo! Você pode observar a tríade que coloquei mais acima no texto, com os deveres de um druida. Pois é, pros celtas isso não bastava. Eles acreditavam que existiam 3 mundos: o céu, a terra e o mar. Cada mundo era dividido em mais 3 partes: mundo espiritual (espíritos e deuses viviam nele), mundo mortal (mortais e a natureza viviam nele) e o mundo celestial (energias cósmicas existiam nele como o sol, a lua e o vento) Também acreditavam em 3 reinos: o da terra, o da água e o do ar. E fora o fato de que existiram há 3 mil anos atrás…hahaha, ok, ok, essa última foi só coincidência mesmo! O fato é que para eles o número 3 era sagrado, mas seus múltiplos eram ainda mais importantes como o 9. O 9 é interessante porque ele tem um significado místico e ao mesmo tempo científico. Não importa os números que você junte, no final das contas sempre dá 9. Duvida de mim? Pegue aí um número e o multiplique por 9. Agora some os números do resultado. Deu 9, não é?

Por exemplo: 9x8=72 –> 7+2 =9 / 9x18= 162 –> 1+6+2=9

Pra mim, algum celta perdeu um bom tempo descobrindo essa façanha da matemática, mas enfim né…Não vamos estragar o misticismo da coisa toda.

Seus símbolos, aliás, eram formados de 3 elementos como pode ser observado abaixo:


Os druidas, por sua vez, obviamente usavam o número 3 e seus múltiplos em todos os seus rituais. Para eles, muitas vezes conseguiam representar o corpo, a mente e o espírito.

Classes de druidas

Não só eram sábios e muito místicos, mas também extremamente organizados. Eram divididos nas seguintes classes:

-Druida-Brithem – eram os juízes. Como eu disse anteriormente, os celtas não usavam a escrita e portanto cabia a um druida saber as leis de cor. Eles costumavam ir de casa em casa ou ir em outras aldeias para resolver os problemas.

-Druidas-Filid  - era o topo da classe dos druidas e sua função era contatar diretamente o cosmos. Eram sacerdotes, juizes, cantores, filósofos e poetas com alto poder e estatus. Extremamente respeitados pelo povo e muito requisitados. Se você quisesse saber se a sua colheita ia dar certo, bastava consultar o Filid. Não, eles não adivinhavam o futuro, apenas consultavam o cosmos. De tão poderosos que eram, ninguém acreditavam que podiam morrer para sempre e sim que reencarnavam em uma nova vida várias vezes. Quando não podiam mais encarnar, eles se tornavam uma espécie de divindade que intercederia pelos vivos no cosmos.

-Druida-Liang – eram os médicos. Estudavam por até 20 anos antes de encarar um paciente (e você aí, reclamando de 5 anos de medicina). Ervas eram o ingrediente principal de muitos remédios e eles sabiam fazer até cirurgias. Eles até mesmo tinham tratamentos contra a velhice, onde utilizavam principalmente azeites. Até os romanos se aproveitaram desse conhecimento e utilizaram-no para discernir as características nutricionais dos alimentos (o que foi uma baita evolução na alimentação humana, diga-se de passagem).

-Druida-Scelaige – pode-se dizer que eles eram os historiadores dos celtas. Sua única função era contar e recontar as histórias que tinham aprendido com outros Scelaige ou Sencha, ou seja, garantir que as lendas perdurassem o máximo possível já que não utilizavam a escrita. Se não decorassem as histórias e canções, perdiam seu prestígio de druida.

-Druida-Sencha – eram uma espécie de pesquisadores. Percorrendo as terras celtas, eles compunham novas histórias e canções e atualizavam as informações do que estava acontecendo por ali. Eles tinham que decorar tudo, já imaginou? Depois disso, eles iam até os Scelaige e contavam para eles todos os babados todas as histórias.

-Druidas-Poetas – se você achou uma confusão essa história de sencha coletando informação e depois contando pra scelaige, saiba que os poetas tinham a função de aprenderem as histórias dos scelaige e recontar ao povo para manter a tradição celta viva. Gente, não era mais fácil os sencha escreverem um livro? NÃO, porque escrever era proibido na cultura celta.

E agora podemos separar essas classes em 3 funções básicas:


-Bardos – eram o primeiro grau e usavam a cor azul. Cantores, poetas, historiadores que eram treinados para contar as histórias e manter a tradição celta. Eram eles que zelavam pela cultura.


-Ovates ou vates – eram o grau intermediário e usavam a cor verde. Médicos, magos e conselheiros que ajudavam os doentes, conheciam astrologia, podiam se conectar com seres do além e transmitir mensagens do outro mundo. Segundo Plínio, o velho, eles usavam uma foice dourada para colher o visco do topo das árvores. Tinham um conhecimento invejável de ervas e das árvores. Eram eles que guiavam as aldeias e aconselhavam os líderes (eu disse líderes, não reis).


-Druidas – eram o mais alto nível e o último dos 3. Usavam a cor branca. Sacerdotes, juízes e conselheiros responsáveis por rituais religiosos, funções políticas, cujo escritório (ou templo) eram as clareiras dos bosques conhecidas por nemetons. Sempre aconselhavam reis e rainhas, ajudando a manter a sociedade celta em ordem. Eram tão respeitados que se um druida dissesse alguma coisa e um rei outra coisa, o povo acreditaria no druida (olha o prestígio!). Além de curar, julgar e administrar, eles tinham que saber as histórias do povo celta e passá-las adiante. Por fim, eles conseguiam consultar o cosmos e saber de eventos futuros.

Os druidas de hoje

Apesar da invasão romana ter praticamente acabado com o druidismo na sociedade celta, fato este que foi consumado pelo imperador Cláudio que não só fez o favor de invadir a bagaça toda, como ainda exterminou os druidas e seus poucos registros (a escrita era proibida, exceto em alguns rituais), de alguma forma essas práticas conseguiram sobreviver por algum tempo. Provavelmente porque o norte do País de Gales e a Irlanda jamais se renderam ao império romano. Na verdade, boa parte do que se sabe hoje sobre eles vem dessas 2 regiões. O problema é que cada região tinha uma forma diferente de tratar seus druidas e, embora os historiadores os classifiquem e tentem criar um padrão, ninguém sabe ao certo como cada região se comportava diante de seus druidas. 

O fato é que algumas lendas conseguiram chegar até nós, infelizmente muito alteradas por visões cristãs e/ou de outras culturas locais. E digo isto porque quando o cristianismo chegou à Irlanda, por exemplo, ele se fundiu com o druidismo e acabou gerando o “cristianismo celta”. É uma versão mais mística e filosófica do cristianismo de Roma. Trocando em miúdos: os caras eram cristãos, mas podiam fazer magia. Vou me abster de comentários pra não ofender ninguém, exceto esse: Cristo, que bagunça!  Se você é católico ortodoxo deve estar se retorcendo no chão neste momento, mas calma lá! Os papas na verdade ficaram meio putos com essa situação e baniram essa prática com o cristianismo ortodoxo romano, ou seja, foi na marra! Aí o pouco que tinha sobrado dos druidas se foi pelo ralo. Está feliz agora, não é meu caro amiguinho cristão ortodoxo?

E aí você deve estar pensando:

-Então como diabos tem druidas atualmente?

Se for parar pra pensar é algo impossível, utópico e sem cabimento. Não se tem registro escrito e tudo é passado pelas histórias e lendas apenas contadas. Como já dizia o ditado “quem conta um conto, aumenta um ponto” e é isso que os historiadores questionam, sobre a veracidade desse druidismo difundido atualmente. O caso é que ninguém sabe como chegou aqui, só que chegou. Ao que parece, registros de 1176 contam que uma festança no castelo de Cardigan teve uma competição de poesia entre Bardos e outros poetas. Aliás, os Bardos só sobreviveram por causa de suas poesias que eram muito apreciadas pelas cortes na Idade Média. O resto, como disse, foi exterminado. O próximo registro data de 1717, quando o irlandês John Toland teve a ideia de criar o Ancient Druid Order para reunir os poucos bardos que restavam. Esse provavelmente foi o maior passo tomado para que o druidismo chegasse aos dias atuais. Em 1726 ele lançou o livro “History of the Celtic Religion and Learning Containing an Account of the Druids”. Pra se ter uma ideia da importância que davam a essa ordem ela só foi desmembrada em 1964 e aí surgiram a Druid Order e a Order of Bards, Ovates and Druids. Entretanto, em 1792 um galês ressuscitou de algum fundo de baú a Eisteddefod, que era exatamente a competição de poesia dos bardos. Só que ela não tinha nada a ver com a ordem  do Toland e nem com as Eisteddefods dele. Enfim, nos anos seguintes autores e mais autores começaram a publicar as lendas, as histórias em coletâneas e até romances inspirados nelas. Pequenos grupos e ordens continuaram se formando até chegar ao neo-druidismo, que é o nome atual pro druidismo.

O neo-druidismo, porém, não é uma religião como o druidismo original provavelmente foi. A intenção dos praticantes é apenas manter viva a cultura druídica utilizando a mesma técnica que os celtas: contando histórias para outras pessoas. Há grupos de neo-druidas em todo o mundo, desde o Reino unido até o Japão, Estados Unidos e, pasmem, o Brasil! Eles tem até uma rede social com tudo sobre o neo-druidismo (vou deixar o link no final do post), o Druid Network. Na verdade, a Emma Restall Orr, ex-líder adjunta da British Druid Order e criadora da Druid Network, pode dar uma definição melhor da coisa toda:

Pois seguramente, se praticássemos hoje o druidismo que era praticado dois ou três mil anos atrás, não demoraria muito para que a polícia nos descobrisse e nos encarcerasse. Isso não quer dizer que o druidismo de dois mil anos atrás fosse mais barbárico do que qualquer outra cultura da época; numa época em que os escritores clássicos descreviam a natureza sacrificial do druidismo, o Circo de Roma era o deleite dos cidadãos romanos com sangrentas lutas mortais entre animais e prisioneiros. A ética social, o sistema penal e o valor dado à vida eram totalmente diferentes se comparados aos de hoje. Se tivéssemos alguma chance de saber com exatidão o que nossos ancestrais druidas faziam em seus rituais, possivelmente a maior parte de suas práticas seria hoje considerada ilegal, inaceitável e, principalmente, ineficiente.

O que ela quis dizer foi que basicamente o druidismo evoluiria de qualquer forma para se adaptar às novas regras da nossa sociedade, afinal hoje em dia arrancar a cabeça de alguém num confronto é um ato de extrema violência, enquanto que na Roma antiga era entretenimento puro! É por isso que os neo-druidas não fazem exatamente tudo que os druidas originais faziam. Enfim, deu pra entender né?

Os presentes que os druidas nos deixaram

O mais famoso com certeza é o dia das bruxas (Halloween), comemorado sempre em outubro e que é descendente direto do feriadão celta do dia de todas as almas.  Os solstícios (verão e inverno) e equinócios (outono e primavera) também estão presentes no nosso calendário.

Mitos mais comuns

Com uma cultura tão fascinante e sem registros, é fácil criar algo sobre ela. É aí que os mitos podem se tornar perigosos e as más interpretações podem ser catastróficas para a história original. Separei alguns:

-Stonehenge é obra dos duidras e servia pra algum ritual – os historiadores até acreditam que o local possa ter sido utilizado pelos druidas celtas para rituais por causa do alinhamento perfeito com o sol, mas isso não significa que já tinha toda aquela estrutura montada por lá. Há divergências sobre a época da construção. Alguns acreditam que o Stonehenge foi construído depois que os druidas já tinham sumido da face da Terra.


-Allan Kardec era druida – espiritismo é diferente de druidismo. Ele até dizia que tinha sido um druida em outra encarnação, mas isso não fazia de Allan propriamente um druida, certo? Allan é o Allan, outra encarnação é outra encarnação, namoro é namoro e um lance é um lance. Não vamos misturar as coisas.


-Druidas eram monoteístas e acreditavam em uma única deusa – eles eram politeístas (acreditavam em vários deuses), assim como todo o resto dos celtas e isso está mais do que provado pela arqueologia. Além do mais, eles acreditavam que não tinha um deus único mantenedor de tudo, como era o caso de Zeus para os gregos, mas que todos os deuses em conjunto é que mantinham o universo funcionando. Tinham deuses e deusas e todos eram importantes para eles, os druidas até mesmo os veneravam frequentemente. As deusas celtas, aliás, eram verdadeiras amazonas que não obedeciam a marido nenhum, eram guerreiras, independentes e livres (tinham até amantes). Enfim, a confusão começou graças ao Gerald Gardner que escreveu sobre a Wicca e fez entender que os celtas eram monoteístas quando na verdade nunca foram.


-Só tinha sacerdotisa mulher – outra interpretação errada que surgiu por causa de um livro chamado “As Brumas de Avalon”, afinal ele cita 2 druidesas importantes. A verdade é que tinham druidas e druidesas, mas a profissão de sacerdócio não era exclusivo delas.


-Druidas se originaram em Atlântida – a suspeita se deve pelo fato dos celtas terem lendas e mais lendas sobre ilhas míticas, mas nunca mencionaram que os druidas vieram de alguma delas. Em seus contos, sempre os heróis vão em busca delas e nunca vem delas. São ilhas do tipo: terra da juventude eterna, terra dos mortos, terra da vida perfeita, etc. É provável que os “imigrantes” do continente europeu ao chegarem nas ilhas britânicas tenham se deparado com a cultura dos povos que viviam por lá. Aquela mistura toda deu nos celtas e consequentemente nos druidas e não que eles tenham vindo de uma ilha com crenças malucas e tenham formado o druidismo.


Druidas famosos da literatura e mitologia

-Panoramix – o druida maluco de Asterix e o único que sabe a fórmula da poção mágica que dá uma força sobrenatural a qualquer um que a tomar, o que ajuda os gauleses a se livrarem dos romanos rapidinho! Ele provavelmente era um Vates.


-Mago Merlin – sim, ele era druida e dos bons! Era praticamente um Filid e se vestia de branco provavelmente, como todo druida. Não é à toa que Arthur se deu bem indo na conversa dele.

Quem não lembra do malucão Merlin do filme da Disney "A espada era lei"? Ele também apareceu no jogo Kingdom Hearts.
 -Kevin – o druida harpista de “As Brumas de Avalon”. Provavelmente era um poeta.
-Taliesin – outro druida de “As Brumas de Avalon”.
-Mug Ruith – um druida cego que mora na Ilha de Valentia. Ele pode aumentar de tamanho, um sopro seu pode causar tempestades e transforma homens em pedra. Usa uma máscara de pássaro e um chifre de touro. É uma figura mitológica da Irlanda e sem dúvidas um druida muito poderoso. Talvez tanto quanto o Merlin.
-Tlachtga – filha de Ruith e uma duidresa muito poderosa também. Sempre é descrita como companheira de viagem de seu pai. Aprendeu tudo com ele, mas teve um final trágico. Depois de ser estuprada pelos 3 filhos do mago Simon, ela correu para uma colina e deu à luz a trigêmeos (caramba, até nisso os celtas usavam o número 3). Morreu de tristeza e uma fortaleza foi construída sobre teu túmulo para honrá-la. Também é parte da mitologia irlandesa (e você achando um absurdo contarem a lenda do boto cor-de-rosa pras crianças do Brasil…pff!).

Seja como for, não há dúvidas de que os druidas eram não só importantes para a sociedade celta, como também se tornaram figuras épicas que povoam a imaginação nos 4 cantos do mundo. O respeito e admiração por eles está voltando com força nos duas atuais e não é pra menos, né?


Links interessantes:
Artigo brasileiro pela PUC-SP: “As Origens do Neo-Druidismo: Entre Tradição Céltica e Pós-Modernidade”
Druidismo hoje e Druidas no Brasil
Desmestificando os celtas e mais informações sobre druidas
Druid Network


Ficou ainda mais curioso? Então veja o que já publicamos de curioso aqui!

Liuka

É uma verdadeira draga de coisas inúteis e ao mesmo tempo interessantes.

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