MadBizarrice: as máscaras mais bizarras da história



Máscaras sempre foram intrigantes para nós. Ao vesti-las nos tornamos misteriosos e, de alguma forma, nosso cérebro passa a entender que já não somos mais nós, mas que a personalidade agora é a que está desenhada na máscara. Isso não quer dizer que elas tenham que ser sempre bonitas. Listei aqui algumas das máscaras mais bizarras da história da humanidade. Confira:

Antiterra
Geofagia, ou seja, comer terra era um hábito comum dos escravos dos séculos XVI ao XIX. Os médicos, porém, não recomendavam esse costume de forma alguma, mesmo sabendo que na África era comum até mesmo comercializar diferentes tipos de terra para o consumo. É isso mesmo, os caras vendiam pacotes de terra pra você comprar e comer. Era comum na cultura deles. Os médicos da época insistiam que esse hábito podia resultar em efeitos colaterais bem desagradáveis como depressão, dores de estômago, falta de apetite e vertigem, portanto os donos desses escravos recorreram a um método não muito ortodoxo, mas bastante eficiente: máscaras que impediam o consumo de terra. Nem preciso dizer que no final das contas a máscara serviu mais como instrumento de tortura para escravos rebeldes do que de ajuda, não é mesmo?


Máscara da vergonha
Fofoca, difamação e até uma tola piada suja eram levadas muito a sério na Alemanha entre os séculos XVII e XVIII. Em geral tinham focinho de porco que significava que a pessoa era suja, orelhas de burro bem grandes que significavam que a pessoa era burra e uma língua enorme que significava que a pessoa era uma linguaruda. Os condenados eram forçados a usar as tais máscaras em público e assim serem humilhados. Algumas chegavam a ter mecanismos que emitiam barulhos estranhos quando a pessoa respirava, assim a humilhação era maior. Para os linguarudos ainda podia existir um retrator de língua bem mal feito, chegava a machucar e impedia que ela falasse. Também haviam peças que esmagavam o nariz e outras que dilaceravam a língua caso o infeliz tentasse gritar ou falar. As pessoas ficavam presas no meio da rua e constantemente eram atacadas por outras que tacavam tomates podres, pedras, etc. No final das contas a pessoa era tão humilhada que aprendia a lição e nunca mais cometia o erro novamente. Bom, pelo menos essa era a ideia da máscara.



Essa tinha até um sininho no topo pra chamar mais atenção e humilhar mais.

Visard
Como se proteger do sol numa era em que o protetor solar era utopia? No século XVI as mulheres adotaram um sistema muito eficaz, mas pouco bonito: máscaras Visard.


Eram na verdade máscaras de veludo preto que cobriam todo o rosto e se mantinham no lugar graças a um botão no lugar da boca, na qual a mulher mordia o tempo todo. Obviamente ela não conseguia falar porque tinha que prender a máscara com o botão na boca, mas pelo menos garantia que sua pele ficasse o mais branca possível. Era moda na época ter uma pele pálida, por isso essa neura. Sem contar que tais máscaras também preservaram todo o mistério sobre a mulher em questão. 


Entretanto a moda não durou muito e vários homens não gostavam dela também. Não é pra menos, já que uma mulher com cara negra vindo na sua direção não deve ser uma das coisas mais agradáveis de se ver neste mundo.

O tal botão que segura a máscara

Esta é uma mulher que fez sua própria máscara Visard. Ela explica em detalhes o processo de fabricação e dá mais informações sobre a máscara no seu site (link).

Médica
Durante o surto de peste negra na Idade Média os médicos usavam máscaras especiais para se protegerem de alguma forma da contaminação. Vidros vermelhos nos olhos eram um símbolo da boa sorte e boa cura e o bico alongado servia na realidade para carregar uma mistura de ervas, rosas e vinagre, impedindo assim o mau cheiro vindo dos moribundos. Claro que a máscara no final das contas não adiantava nada, exceto garantir um maior tempo de permanência do médico no local, mas eles só foram descobrir isso séculos mais tarde. Já falamos da medicina daquela época aqui no blog (link).


Guerreira
As armaduras dos samurais eram tão completas que chegam a impressionar! De capacetes a peitorais, elas cobriam cada centímetro do corpo o máximo que podiam. Claro que o kabuto, aquele capacete icônico, não resolvia por si só o problema. Era necessária uma máscara que protegia o rosto ou  só a parte inferior do rosto.


Elas também serviam para identificação, já que cada clã japonês tinha uma máscara diferente.


A cara da fraqueza humana
Hannya são máscaras muito utilizadas no teatro tradicional japonês que representam uma gama de sentimentos confusos como paixão, ciúme ou ódio. É na verdade uma criatura mítica, um verdadeiro monstro que é capaz de transmitir uma personalidade mais macabra e vil aos personagens do teatro, sejam homens ou mulheres. Mas calma lá que elas não tem nada a ver com o diabo até porque no budismo japonês ele não existe. Para se entender melhor imagine uma mulher tomada pela inveja de tal forma que se torna um monstro. Pois bem, no teatro japonês ela seria representada utilizando essa máscara. Com direito a chifres, dentes afiados, olhos tomados de ódio e uma expressão que chega até mesmo a intimidar o espectador, é certamente uma das máscaras mais bizarras que existem. Dizem que pode ainda afastar os maus espíritos.


A história mais famosa que envolve essa máscara é a de Kiyo Hime, a filha de Shoji, um dono de harborag (uma pousada que fica sobre um rio, lago ou coisa do tipo). Todo ano o monge Anchin ia para lá e Kiyo começou a se apaixonar por ele. Até certo ponto ele também demonstrou interesse. Certo dia, já sem controle de suas emoções, ela se declarou para o tal monge que por sua vez a recusou por causa dos seus princípios budistas. Ela tentou persuadi-lo e o perseguiu por um bom tempo até que a paixão se transformou em puro ódio. Tentando fugir, ele pediu a ajuda de um barqueiro para atravessar o rio e não deixou levá-la junto. Furiosa, ela nadou até que o ódio era tão intenso que seu corpo se transformou em um corpo de serpente e ela agora podia até cuspir fogo. Assustado, o pobre monge correu para dentro do templo Dojo-ji. Ele implorou pela ajuda dos sacerdotes e então eles o esconderam dentro de um sino gigante. Kiyo o viu entrando no templo e tomada pela fúria, ódio e querendo vingança começou a bater inúmeras vezes no sino, mas como ele se recusava a sair ela soltou fogo sobre o sino que derreteu, matando o monge. Algumas versões dizem que ela acabou morrendo sob o sino derretido também. Agora imagina uma mulher com corpo de serpente e a cara dessa máscara. Bizarro é pouco!


O elfo japonês
Se você joga ou gosta da cultura japonesa, certamente já viu essa máscara cuja principal característica é um nariz alongado, praticamente um pinóquio bizarro. 


O Tengu é na verdade uma espécie de elfo que pode ter variados poderes como ventriloquismo, teletransporte, mudar de forma e até mesmo invadir os sonhos dos mortais. Para nós brasileiros, o Tengu seria uma espécie de Saci pela sua fama de adorar causar a desordem. Ao mesmo tempo ele tenta prejudicar os arrogantes e metidos a espertões que tentam ganhar fama com a sabedoria, por isso também é tido como um guardião dos templos. Dizem as más línguas que esses arrogantes reencarnavam como Tengus. Acreditava-se que eles protegiam as montanhas e que vários de seus reis moraram no Monte Kurama e Monte Hiko, sendo até que muitas lendas relatam que grandes imperadores e samurais chegaram a treinar a arte da guerra com eles. A história é na verdade muito controversa, já que cada era o via de uma forma. Por exemplo antes era o sequestrador de crianças e na era Edo virou a divindade que encontrava as crianças perdidas. As máscaras dos Tengu são muito utilizadas em festivais e às vezes no teatro. Ah e o nariz dele no período Edo podia ter duplo sentido nas pinturas. É isso mesmo, eles podiam ter conotação sexual. Vai entender o folclore japonês...


Saddam, o maldito
Se você achava que tortura era coisa da Idade Média, você está muito errado! Saddam Hussein, um dos mais malditos ditadores que já sugou oxigênio deste planeta tinha métodos de tortura que mais pareciam ter saído de um filme de terror ou de um livro medieval. Eis aqui um pequeno exemplo das máscaras de tortura usadas durante o seu regime e que hoje estão expostas em Bagdá.




À moda brasileira
Assim como a antiterra, aqui existiam as máscaras de folha-de-flandres para os escravos. Feita com uma chapa de aço, era trancada com um cadeado atrás da cabeça e impedia que o escravo comesse, bebesse ou roubasse.


Máscara de embelezamento da Madame Rowley
Curiosamente essa máscara originalmente se chamava "Madame Rowley’s Toilet Mask”, o que em tradução livre seria a "máscara higiênica da Madame Rowley". Eu adaptei pra ficar mais lógico. Nada mais era do que uma máscara que a mulher colocava no rosto antes de dormir e quando tirasse no dia seguinte não só acordaria com "novas feições", como também agora teria uma pele impecável. Era um tratamento de beleza de 1890 que ganhou até mesmo patente. Durante o sono, a máscara teoricamente permitia a transpiração, assim os poros poderiam se abrir e a circulação melhoraria tornando a pele macia e até mais clara no dia seguinte. Bom, na verdade as usuárias ganhavam algum tipo de micose na pele.


Máscaras de embelezamento modernas
Se você achou que só em 1800 a galera era meio pirada, saiba que atualmente há máscaras tão bizarras quanto as da época, mas ainda tem o mesmo propósito: embelezar. A empresa Kogao (que se dane o jabá) tem uma linha de máscaras bizarras: a Germanium Kogao Face Belt Anti-aging mais parece um aparelho de tortura medieval, mas na verdade serve pra você usar durante a sauna e assim sair não só com um rosto mais belo, mas também mais jovem e magro. 


A Kogao Smile serve pra acabar com as rugas quando você sorri. 


Também tem a máscara de exercícios faciais.


E se você acha que é coisa de mulher neurótica, saiba que também tem máscaras para homens. Inclusive esta promete fazer um lifting na sua cara.


Ah, e também tem a germanium pra vocês!hehehe


O que as pessoas não fazem pela beleza?

Máscaras de combate
Em meados da primeira guerra, os tanques britânicos eram verdadeiras carroças de metal pesado que quebravam facilmente, eram lentas e ainda por cima era fácil destruí-las se você tivesse artilharia pesada. Bom, de qualquer forma os soldados sofriam ferimentos terríveis no rosto, não importando se estavam dentro ou fora do tanque. Tiros, estilhaços, faíscas, rebites, lascas de tinta de chumbo e mais uma série de pequenas peças poderiam facilmente atingir os soldados e desfigurar suas faces. A solução? Esta máscara que mais parece coisa de tortura medieval. Pra falar a verdade, os alemães chegaram até a recuar um pouco ao ver os tanques e soldados mascarados, mas logo que perceberam a facilidade de destruir os tranques e pra que serviam as máscaras, começaram a ridicularizar os britânicos e contra-atacaram com mais fervor.


O presbiteriano mascarado
Em 1663 o rei Charles II aboliu a igreja Presbiteriana, mas isso não conteve Alexander Peden. Ele ia de casa em casa pregando a religião, às escondidas, afim de juntar o máximo de fiéis que pudesse. Logo os soldados descobriram e começaram a persegui-lo. Para despista-los Peden teve uma ideia que parece ridícula, mas na verdade funcionou muito bem: criou uma máscara que imitava um rosto humano que tinha até mesmo uma barba, peruca e dentes de madeira. Por incrível que pareça, as pessoas pouco se importaram com o profeta bizarro. Entretanto seu disfarce logo foi descoberto e Peden ficou pulando de prisão em prisão por mais de uma década até ser banido para os Estados Unidos. Ainda sim, o valente ministro presbiteriano se atreveu a voltar mais uma vez para a Escócia e morreu na clandestinidade.


A máscara do rosto falso
A tribo dos Iroqueses, vinda lá do norte dos Estados Unidos e Canadá, tinha métodos de cura bastante bizarros. A máscara do rosto falso era na verdade o último recurso para curar um doente. Assim que o curandeiro a vestia, ele começava um ritual de cura onde fazia movimentos violentos para expulsar os demônios do corpo do moribundo. E não pense que era apenas uma máscara esculpida em madeira não. Eles diziam ser a encarnação de um espírito, por isso cuidavam muito bem delas. Passavam gordura animal na máscara, a alimentavam com angu branco e queimavam tabaco para honrá-la. O processo de fabricação era curioso: eles a esculpiam em uma árvore primeiro (bordo, pinho, álamo), depois eram cortadas fora e finalmente enfeitadas.



Máscaras para bombeiros
A fumaça e o calor sempre foram grandes problemas para os bombeiros. Desde o século passado as máscaras se tornaram um equipamento essencial para o resgate. Abaixo você pode ver uma máscara usada por bombeiros franceses de 1800. Sabemos que é francesa porque o símbolo é dos Sapeurs-pompiers, o grupo de bombeiros da França.


A máscara da direita também é francesa e foi usada entre 1800 até o final da primeira guerra mundial. O interessante é que neste modelo, ao contrário do anterior, o ar era bombeado através de um fole para dentro da máscara por até 13 metros de tubos flexíveis. Isso, claro, era bombeado do exterior, o que permitia ao bombeiro entrar num prédio em chamas e respirar tranquilamente. Foi feita por J. Mandet em Paris. O modelo da esquerda é um capacete feito de couro e conhecido por "aparato respiratório", criado pela G.B.Konic Altona em Hamburgo, na Alemanha. Ambos os modelos tem vidro nos buracos dos olhos, o que aumentava ainda mais a proteção contra o calor.


Máscaras de gás divertidas para crianças
Ok, não era tão divertido usar uma coisa dessas, até porque representam a proteção contra algo realmente letal.


Eu sinceramente acho que as máscaras tinham tripla função: proteger a criança, diminuir o medo e permiti-la se divertir. Máscaras de gás por si só são muito bizarras e assustadoras, então imagina pra uma criança ver seus pais e irmãos usando algo do tipo? É óbvio que ficariam assustadas, mas a situação poderia ser amenizada caso ela usasse alguma máscara com a cara do Mickey por exemplo. É uma ideia "divertida" e no final das contas a criança pode brincar que é o Mickey. A maior parte dessas máscaras surgiu entre as 2 guerras mundiais, principalmente nos Estados Unidos e Europa. E sim, o Disney projetou uma dessas máscaras.

Walt Disney apresentando seu projeto ao General William Porter em 1942.
O modelo que o Disney estava apresentando aí em cima.





Na Inglaterra e Canadá surgiu um tipo de máscara diferente e divertido, onde imagino que a lingueta se movia a cada respiração da criança (corrijam se eu estiver errada).

Britânica à esquerda e canadense à direita.

De úteis a totalmente sem noção, essas máscaras fazem parte da história e muitas delas ajudaram a criar novas tecnologias e modas. Você usaria alguma delas?


Para ver outras coisas estranhas e incomuns, acesse a nossa coluna de bizarrices!

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