MadCurioso: Os cavaleiros alados da Polônia

Cavaleiros medievais são figuras épicas por natureza não só em lendas, missões e credos, mas também e principalmente em aparência. Quem nunca quis vestir uma armadura medieval e sair por aí dando espadada em tudo? Entretanto a Polônia elevou toda a coisa a um patamar muito mais alto. Sim, meus caros leitores, é possível elevar o nível do quão épico um cavaleiro pode ser. Conheça os cavaleiros alados do exército polonês!

Entre os séculos XVI e XVIII (16 e 18, criatura), na Sérvia e Hungria haviam cavaleiros que se chamavam Hussardos. Eram famosos por serem tão rápidos e habilidosos que não sobrava pedra sobre pedra, ou melhor, cabeça sobre pescoço pra contar a história. Eram na verdade uma mistura das cavalarias húngara e turca, principalmente no que se referia à vestimenta (armadura leve), táticas de guerra e armamentos. Eles costumavam proteger a Hungria que na época estava sendo impiedosamente invadida pelos turcos e tártaros. Sua principal característica era o golpe rápido e fatal. Para se ter uma ideia da eficácia desses soldados, em 1757 um conde húngaro chamado Andreas Hadik foi escondido até Berlim com seus hussardos, saqueou tudo e voltou sem 1 baixa sequer!

Eis que alguns destes cavaleiros começaram a servir o exército polonês também, que não era nada besta e empregou as técnicas em seus próprios cavaleiros e assim surgiram os hussardos alados! Como uma evolução, os hussardos alados usavam armaduras pesadas.

A cereja do bolo certamente eram as asas, cuja desculpa para o seu uso era de que eles queriam parecer "anjos a serviço da Cristandade", afinal lutavam contra os inimigos infiéis. Mas há também quem diga que o barulho das penas no ar assustava os cavalos dos inimigos e fazia o exército parecer maior do que realmente era. Outra teoria é de que elas ajudavam a desviar lanças e projéteis que os turcos atiravam nos hussardos.

Nos anos 70 essas duas últimas teorias foram testadas e nenhuma delas foi comprovada. Os historiadores acreditam que as asas e mais as peles de animais selvagens presas também nas costas dos cavaleiros criavam um terror psicológico nos inimigos. O próprio rei húngaro Stefan Bathory escreveu:

 "(...) penas e outros embelezamentos para a magnificência e o pavor dos inimigos."

Mas não era qualquer um que podia servir a essa "tropa de elite". Primeiro o soldado tinha que pertencer à nobreza polaca ou lituana (sim a Lituânia também entrou no esquema), afinal era o próprio que providenciava o cavalo, as armas e a armadura. O rei só fornecia as lanças que chegavam a 5,5 metros de comprimento!

O equipamento usado nas batalhas dependia do tipo de inimigo que seria enfrentado, mas a única coisa que não mudava era o uso das lanças. As outras armas variavam entre um sabre, um martelo de guerra e um machado. A armadura consistia em uma couraça no peito e cota de malha no restante do corpo. Um capacete protegia a cabeça. Nas costas haviam duas hastes presas repletas de penas de avestruz, águia, ganso ou cisne. Eram as famosas asas!

Os soldados recrutados tinham que ser extremamente habilidosos com todo o tipo de combate, principalmente com combate sobre cavalos e com lançamento de lanças. Era exigida uma performance perfeita ou o destino das guerras poderia mudar drasticamente. No final da era de ouro destes soldados, até mesmo as armas de fogo e os sabres entraram pro arsenal.

Quando se pensa numa cavalaria, logo vem à cabeça que é essencial ser ligeira e provavelmente leve. Acredite se quiser, mas eles foram talvez a única cavalaria pesada da Europa a ser extremamente eficiente em suas táticas. Eles não se importavam em usar quilos e quilos de metal, contanto que algumas cabeças fossem arrancadas e as guerras vencidas. A tática era simples: quebrar as formações inimigas. Atacar com toda a força se mostrou extremamente eficaz. Não se tinha dó, simplesmente entravam em "choque" com os inimigos até desmantelar os exércitos.

Eles acreditavam piamente (e exigiam de todos também) na total fidelidade, coragem, confiança e força. Com certeza todo esse pensamento positivo os ajudou a enfrentar tantas batalhas.

As batalhas mais famosas foram as de Kircholm e Viena. Em Kircholmos hussardos alados chutaram os traseiros expulsaram suecos de seu litoral com tanta força que até o rei Karl IX da Suécia ficou surpreso. Enquanto os poucos suecos que restaram corriam para as colinas batiam em retirada, o exército polonês de hussardos alados se manteve totalmente intacto like a boss. Na batalha de Viena a coisa foi ainda mais épica: de um lado os otomanos loucos pra invadir a p*rra toda tudo e do outro toda a galera da comunidade Polaco-Lituana nada contente com a situação. Agora imagine a seguinte cena: os Otomanos cercam Viena e as defesas da cidade ficam de prontidão, mas nada fazem, só observam. De repente, como num épico filme de Hollywood, 18mil, isso mesmo, 18FUCKINGmil cavaleiros (poloneses, austríacos e alemães), sendo 3mil alados liderando a galera toda (haja avestruz pra tanta pena!) e ainda por cima estes eram liderados pelo seu rei Jan Sobieski (imagina essa cena, cara, só imagina), descem correndo as colinas furiosos e atacam com toda a força como se não houvesse o amanhã! Vendo a orda avassaladora, os otomanos correram o mais rápido que puderam (e que outra opção os caras tinham depois de 18FUCKINGmil cavaleiros vindo pra cima deles né?). Foi uma das maiores e mais importantes batalhas da Europa de todos os tempos! E também a que mais teve cavaleiros participando (e com certeza inesquecível pros Otomanos).

Se não conseguiu imaginar, a gente te ajuda com essa imagem! (clique para ampliar)

O fim se deu durante o chamado "Dilúvio", onde a comunidade Polaco-Lituana começou a perder a soberania aos poucos até que o Império Russo e o Império Habsburgo chegaram e conquistaram tudo. Numa Polônia dominada não tinha espaço para soldados de elite como os hussardos alados. Mesmo resistindo, no final acabaram sendo divididos em 3 tipos de cavalaria até que tudo se acabou. Quer dizer, os hussardos ainda existem, mas agora usam coisas mais modernas, armas de fogo e estão presentes em exércitos de vários países e continentes. O Brasil nunca teve hussardos oficiais, muito embora algumas cavalarias da época imperial às vezes fossem chamadas de hussardos, mas era muito raro. Já os hussardos poloneses alados deixaram de existir em meados de 1700.

Os hussardos alados não só se tornaram uma tropa de elite do exército polonês, como também são até hoje um símbolo nacional da Polônia. E não é pra menos, devo dizer! Os caras sabiam o que estavam fazendo e eram bons no que faziam. Constantemente há encenações, filmes e até jogos eletrônicos sobre a cavalaria. É incrível como esses nobres cavaleiros deixaram uma marca profunda na cultura polonesa.

Hussardo alado exposto no Museu Militar de Varsóvia.

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