ENTREVISTA COM MARTIN SCORCESE DA REVISTA SET DOS ANOS 90
“Cresci entre gângsteres e padres, sem meio-termo entre eles. E eu, como artista, sou de certa forma um gângster e um padre.”
Filmes? O que são os filmes? O que se consegue através deles? Qual o seu objetivo ao assisti-los? Prazer? Entretenimento? Algo inspirador? Ver determinada cena que o deixe contente? Se chocar? E o mais importante:
O que leva alguém a fazê-los?
Trazer um breve pensamento do fundo da mente e moldar, até que inúmeras perspectivas possam observar essa ideia, que foi aperfeiçoada, ou mesmo deturpada como a maioria é apenas uma pequena parte do longo processo em se fazer cinema, ou melhor: Em se fazer cinema de verdade. O que me levou a assistir filme, em boa parte da vida, foi apenas uma diversão barata a mais e pronto, colocava Matrix só para ver as lutas por exemplo. Cinema nunca tinha sido uma arte para mim, até ai, nada também. Falo isso como alguém que passou cerca de seis anos consecutivos sem perder uma única “Sessão da Tarde”, tempos em que DVDs era para os ricos, VHS para os membros da Classe Média (C e D), e o computador com a internet, um sonho distante a se vislumbrar nos programas do Silvio Santos, onde me lembro que ele premiava entre várias coisas nos seus programas de auditórios os microcomputadores e CDs Roms do saudoso Show do Milhão.
Cinema só foi considerado arte para mim, há alguns anos atrás, quando tive contato com a saga de Maximus Meridius, O Gladiador. A trilha sonora, os enquadramentos (principalmente a mão sobre a mata no caminho para casa, recurso que foi um dos últimos a ser filmado, um detalhe final do diretor), as atuações... Em especial a do Joaquin Phoenix, devo acrescentar, que não se deixava eclipsar com peso pesado Russel Crowe. Uma história e cenas que inspiravam, que ecoam até hoje na memória. De súbito, padronizei: Isso é cinema. Quero saber quem são os responsáveis por isso. Daí nasceu a busca por diretores, por filmes cada vez mais autorais, que provocassem reflexões cada vez maiores, tivessem níveis de ensinamentos para se levar para o resto da vida. Foi a partir do Ridley Scott que o cinema teve e tem cada vez mais significado. E foi através do Scott, que saí em busca da chamada “invasão de novos talentos” em Hollywood nos anos 70 (Assim como a DC também tivera invasão parecida nos 80, e o resultado de ambas é sensacional) com nomes como Copolla, Kubrick (já atuante há mais tempo), Spielberg, Alan Parker, e se não o melhor: Martin Scorsese. Duas coisas são recorrentes em seus longas: Nova York e Gângsteres, sejam separados, ou juntos, embora cada vez que ele trabalhe esses dois temas juntos, consiga jóias do cinema como Touro Indomável, particularmente o melhor filme dele para mim, embora eu goste quase tanto de “Os Infiltrados”. Até hoje em dia as pessoas discutem a veracidade do Oscar, se ele reflete de fato os melhores trabalhos artísticos, a meu ver: Não. Quase nunca. Fato é que Scorsese veio ganhar seu primeiro Oscar de “Melhor Diretor” mais de trinta anos após produzir em sua maioria, uma fatia grande dos melhores filmes das ultimas décadas. Vejo muitas pessoas reclamando pelo fato do estrondoso Guardiões da Galáxia ser diminuído pelos “críticos” de lá (em boa parte, frustrados esquerdistas que não conseguiram ser artistas, e fazem das escolhas um ativismo político literal), inclusive meu amigo Joker, e o que dizer dos maiores cineastas que o mundo conheceu, que foram tão ignorados assim?
Lista dos assistidos pela ordem de visualização:
Imagens: Revista SET, N° 130, Publicada em Abril de 1998.
Texto da Revista SET escrito por: Sérgio Rizzo
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