MadCurioso: 17 lugares radioativos pelo mundo
Costumo dizer que a radiação é como o fogo: ela pode servir pro bem ou pro mal. Às vezes a gente perde o controle e acidentes acontecem, contaminando e destruindo lugares por longos períodos de tempo. Listei aqui 17 lugares mais radioativos do planeta pra você passar bem longe (ou não):
Mar Mediterrâneo radioativo – sabe-se que uma máfia italiana chamada Ndrangheta foi responsável por lidar com lixo radioativo, mas ele misteriosamente desapareceu desde 1994. As suspeitas são de que os incompetentes pegavam o dinheiro e jogavam tudo no meio do mar Mediterrâneo ilegalmente. Se for verdade, o estrago pode ser colossal. Há uma ONG italiana chamada Legambiente que está investigando o local. O medo principal é de que a água salgada tenha degradado os barris ou que eles sejam facilmente abertos. Se houver esta catástrofe, o ambiente do Mediterrâneo será contaminado e nunca mais recuperado.
Somália comprometida – em 2004 surgiram alguns barris estranhos na costa da Somália depois de um forte tsunami. O governo somali teve um frio na espinha. Segundo a máfia italiana supracitada, eles também enterraram cerca de 600 barris de lixo radioativo e tóxico oriundos inclusive de hospitais na costa da Somália. Possivelmente estes barris que apareceram poderiam ser os enterrados. Se um deles abrisse ou se rompesse seria um desastre que assolaria um país que já vive numa miséria histórica e quase irrecuperável. A culpa era de quem? O governo não protegia a costa na década de 90 e a máfia estava cheia de espertalhões. Decida você mesmo.
O alto preço da bomba atômica – os japoneses pagaram feio pelos ataques e as vítimas literalmente viraram pó. Os poucos sobreviventes vivem com uma péssima qualidade de vida e saúde. Por outro lado, os Estados Unidos tem uma pedra no sapato também. O Hanford Site, em Washington, guarda os resquícios do lixo nuclear que sobraram da fabricação da bomba atômica. Ali também foi guardado o lixo radioativo do que restou da fabricação de armas de destruição em massa da Guerra Fria, onde o país ganhou 60mil armas nucleares de defesa e ataque. Estão armazenados 2/3 de todo lixo radioativo do país que inclui 53 milhões de galões de líquido nuclear, 25 milhões de metros quadrados de sólidos nucleares e 200 metros quadrados de água do subsolo contaminada. O problema maior é que o lugar fica bem no coração do país, pertinho da sede do governo.
Lago comprometido – o complexo industrial Mayak no nordeste da Rússia foi palco de um acidente nuclear em 1957. Não foi grande como o da Ucrânia, mas foi feio mesmo assim. Uma explosão jogou 100 toneladas de materiais radioativos num tamanho considerável de área, incluindo o lago Karachay, muito usado pela população local. Acredita-se que 400mil pessoas tenham sido expostas a altíssimos níveis de radiação e o ambiente do local mudou drasticamente. Incêndios e tempestades de poeira massivos são frequentes agora. A região talvez seja uma das mais perigosas do pais e a água do lago poderia facilmente matar um adulto em uma hora. A União Soviética manteve o segredo até os anos 80, quando o número de contaminados começou a preocupar.
Irlandeses radioativos – se você gosta de apontar o dedo e xingar os russos e ucranianos pelos piores acidentes nucleares, então pare e leia isto: a oeste da costa inglesa há um lugar chamado Sellafield que era um complexo de produção de plutônio enriquecido para bombas nucleares. Centenas de acidentes transformaram o local num dos mais radioativos do mundo. Cerca de 2/3 dos prédios do complexo tem entrada proibida por causa de seus altíssimos níveis de radiação. Mas calma, a coisa vai piorar muito! Cerca de 8 milhões de litros de lixo radioativo vazaram no mar, transformando o mar irlandês no mais radioativo do mundo! Obviamente isso contaminou o Atlântico também. O local foi desativado e as operações transferidas para um complexo industrial, mas o governo britânico foi acusado de omitir e não fiscalizar várias indústrias nucleares, causando um prejuízo ambiental muito prejudicial a todo o planeta.
Lugar de testes nucleares que é um país hoje – a União Soviética fazia testes de armas nucleares no território que hoje é o polígono do Cazaquistão. Embora os relatórios do projeto tenham definido a área como inabitada, isto nunca foi verdade. Cerca de 700mil pessoas viviam na área na época. Acredita-se que em 40 anos (de 1949 a 1989) pelo menos 456 testes de explosões nucleares tenham acontecido, tornando-o um dos locais com mais explosões atômicas do mundo. Tanto tempo de exposição só podia dar em caca, né? Cerca de 200mil pessoas foram expostas diretamente à radiação e isso causou mutações genéticas graves. O projeto foi abandonado em 1991, quando a Guerra Fria era só um fantasma do passado.
O segredo sob a neve – 4 décadas de lixo nuclear certamente podem ser má ideia. Agora imagine isso tudo no meio da Sibéria. A Cooperativa Química Siberiana tem piscinas descobertas com 125mil toneladas de lixo radioativo estocado . A coisa toda pode ter vazado pros lençóis freáticos. A vida selvagem ao redor já foi afetada e a fauna também. Isso sem contar os inúmeros acidentes com explosões que espalharam radiação e o roubo de plutônio. Não se engane pela densa e branca neve, ela guarda segredos sombrios de uma paisagem nada amigável e extremamente letal.
Mineração maldita – Quirguistão é um país pequeno e muito perigoso. Não falo de terroristas malucos, nem de usinas nucleares explodidas, mas de minas que podem te matar facilmente. Segundo o Instituto Blacksmit, uma pesquisa realizada em 2006 provou que é uma das regiões mais perigosas e poluídas da Terra. As diversas minas e complexos de processamento de urânio em Mailuu-Suu criaram 36 depósitos de lixos radioativos ou 2 milhões de metros cúbicos. Ficou com medo? Não? Pois então vou te apavorar: o local é conhecido por ter alta atividade sismológica, ou seja, tem terremoto toda hora. Esses resíduos podem facilmente chegar a um rio e contaminar as regiões próximas, afetando milhares de pessoas e causando uma catástrofe de proporções épicas.
Minério maldito – o Quirguistão pode ter tido problemas com suas minas, mas a cidade de Karunagappally na Índia certamente tem uma dor de cabeça maior. Uma série de raros metais, como a monazita, acabou vazando de algumas minas graças à erosão das terras ao redor e foram parar em rios próximos que se tornaram muito radioativos e estão contaminando as pessoas e os peixes. Os índices de câncer aumentaram significativamente e os cientistas estão monitorando a região.
Forte radioativo – um forte francês construído em 1842 chamado Fort d’Aubervilliers foi palco de várias batalhas, mas também o laboratório da filha da famosa cientista Marie Curie, a Irène Joliot-Curie, e seu marido Frédéric Joliot-Curie. Ali eles estudaram o radio-226, o césio-137 e realizaram testes para armas nucleares do governo francês durante os anos 20 e 30. Cerca de 60 metros cúbicos de solo foram contaminados.
Na década de 90 o governo francês começou a limpar o lugar e depositou no interior do forte 61 barris com material radioativo. Um estudo de 2006 mostrou que o lugar ainda é muito radioativo, o que é bastante preocupante levando-se em conta que o forte fica no meio da capital Paris. Infelizmente o solo não foi totalmente descontaminado e isso tem causado um aumento assustador de câncer nos moradores locais.
A reciclagem que custou caro – em Los Barrios, na Espanha, está a maior fábrica de aço inoxidável do mundo, a Acerinox. Tudo estaria bem se não fosse por uma falha grave de equipamentos. Em 1998, uma cápsula de césio-137 não foi detectada pelos equipamentos de monitoramento e acabou sendo derretida junto com outras sobras de metal. Pra piorar, os detectores das chaminés da fábrica também não detectaram a radiação. A substância evaporou e criou uma nuvem que viajou pela Europa. Ela foi detectada na França, Alemanha, Itália, Áustria e Suíça a níveis até mil vezes maiores do que os normais de radiação. Cerca de 6 pessoas da fábrica foram expostas diretamente à radiação. A limpeza, descontaminação do local e armazenamento de lixo radioativo deu um prejuízo de 6 milhões de dólares à empresa. Ela ainda teve um prejuízo de cerca de 20 milhões de dólares de produção perdida, já que todo o metal derretido foi contaminado. Outras duas empresas que trabalhavam em conjunto com eles também tiveram prejuízos e contaminação.
Vizinho letal – em 1989, os moradores de um prédio em Kramatorsk, na Ucrânia, exigiram às autoridades que os níveis de radiação fossem medidos no local. O pedido pode lhe parecer estranho, mas os moradores tinham muitos motivos para acreditar que algo estava muito, mas muito errado ali. Tudo porque em 9 anos, 6 residentes morreram de leucemia e 17 tiveram outras complicações e vários tipos de câncer num único prédio. Era coincidência demais! Eis que o pior pesadelo deles se concretizou quando autoridades descobriram uma cápsula de césio-137 (semelhante à da foto acima) presa no concreto de uma parede no apartamento 85. Mas como uma cápsula radioativa poderia ter ido parar numa parede? O que se sabe é que durante a construção do prédio na década de 70 a cápsula sumiu de um equipamento de medição. Provavelmente ela caiu no meio do misturador de concreto e o final você já sabe. Ninguém entendeu por que as autoridades não foram avisadas e por que não houve uma intensa busca pelo material, já que ele era muito nocivo. Por fim a cápsula foi removida, a parede refeita, o prédio descontaminado e os vizinhos agora podem dormir em paz. Se quiser visitar o local, procure pela rua Gvardeytsiv Kantemirovtsiv, prédio 7.
Areia assassina – Yangjiang é uma região da China com alguns vilarejos. Depois de observarem as altas taxas de câncer e, consequentemente, mortalidade nos moradores, as autoridades começaram a investigar o local. Não fazia sentido que aqueles agricultores estivessem doentes. Eis que foram detectados altos níveis de radiação vindos da areia local, que tem em sua composição monazita, radio, radônio e actínio. O pior de tudo é que as casas das pessoas eram feitas com esse material. Embora o governo chinês tenha tentado retirar os moradores de lá, muitos se recusaram a sair.
Praia letal – se você achou um absurdo a região chinesa com areia radioativa, saiba que no Espírito Santo, aqui no Brasil, tem uma praia chamada Guarapari cuja areia é preta e tem tanta radiação que está preocupando os especialistas. A composição dela é de basicamente monazita, tório e urânio, ou seja, elementos naturalmente radioativos. Segundo o físico nuclear e chefe do Departamento de Física da Universidade Federal do ES, o Marcos Tadeu Orlando, os níveis de radiação são relativamente altos e é desaconselhável levar crianças e idosos para essa praia o tempo todo, já que eles são muito mais suscetíveis à radiação. Também não se deve passar muitas horas por lá e nem levar a areia pra casa.
Os índices de câncer nos moradores da região estão sendo monitorados pela secretaria de saúde. A “cidade saúde”, como é conhecida Guarapari, é um dos mais frequentados pontos turísticos do Estado e há quem diga que a radiação pode até ser benéfica, reduzindo os efeitos do envelhecimento. Estudos científicos sugerem que a areia preta seja usada apenas para a construção de fundações de casas e prédios, mas nunca para paredes e outras estruturas acima da superfície por seus valores de radiação serem altos. Deixei dois estudos à disposição com valores específicos de radiação no final da postagem. Claro que há outras praias radioativas pelo Brasil e até mesmo pelo
mundo, mas a de Guarapari é um caso mais famoso por ser um ponto
turístico muito conhecido. E também não precisa entrar em pânico, pois
não é uma Chernobil 2. Só evite ficar o dia todo na praia e você ficará bem. Os raios UV do sol podem ser piores vilões do que a radioatividade da areia, só pra constar.
O preço do descaso – um ano após o gravíssimo acidente de Chernobil, eis que uma catástrofe nuclear aconteceu no Brasil. Em 1987 uma clínica de radioterapia de Goiânia, em Goiás, foi abandonada. Por algum motivo, o dono simplesmente largou o equipamento de radioterapia para trás que na época era uma bomba de césio que continha o material césio-137. Um pobre catador de ferro encontrou a cápsula selada de puro chumbo e aço. Vendo que poderia ganhar uma grana legal, vendeu-a para um dono de um ferro-velho, o Devair Ferreira. Curioso para saber o que era aquilo e o que guardava, Devair rompeu o lacre, abriu a cápsula e ficou encantado com o pó que brilhava no escuro com uma cor azulada. Ele não tinha sequer ideia do que era, mas mesmo assim distribuiu para alguns amigos e até deu para a sua filha Leide. Em poucas horas, a família e os vizinhos começaram a sentir os efeitos da longa exposição. Eles ingeriram, aspiraram e tocaram no césio-137 que por ser um pó num lugar úmido, piorava e muito a situação e tornava a descontaminação quase impossível já que se agarrava em tudo. Náuseas, cansaço, tonturas, vômitos e diarreias fizeram com que a esposa de Devair, Maria Gabriela, suspeitasse de algo da cápsula e a levou para a vigilância sanitária. Dias depois a polícia, o exército e toda uma parafernália de cientistas tinham cercado o bairro inteiro e começaram a desocupação do local. As vítimas morreram horas depois, com sintomas graves, começando por Maria Gabriela. Estima-se que 600 pessoas tenham sido contaminadas na cidade toda, mas a maioria sobreviveu, muito embora sofram com os efeitos da radiação até hoje. Algumas com contaminação mais grave foram isoladas e sofreram muito preconceito ao longo de suas vidas, mas hoje não apresentam nenhum risco de contaminação, então é totalmente seguro se aproximar delas. Atualmente um parque abriga os contêineres com o lixo atômico proveniente das casas e do ferro-velho que estão lacrados com chumbo e concreto dentro de uma montanha artificial e o lugar tem índices de radiação seguros. Os corpos dos mortos foram lacrados em caixões de chumbo e enterrados em covas de concreto. Acredita-se que somente 180 anos depois do desastre é que a radiação dos corpos e do lixo chegará a níveis totalmente seguros. O acidente revolucionou as leis brasileiras sobre energia nuclear e hoje a fiscalização é muito mais rígida. Eu sei porque sou da área. Ah e a cápsula foi esvaziada, descontaminada e hoje é um troféu em homenagem aos heróis que ajudaram na descontaminação. O acidente também mobilizou o governo brasileiro para que obrigasse os hospitais e clínicas a trocarem as bombas de cobalto-60 e césio-137 por Aceleradores Lineares que funcionam apenas com energia elétrica e não usam nenhum material radioativo, evitando assim mais desastres nucleares e melhorando a qualidade do tratamento de câncer.
Atualmente a grande maioria dos centros de tratamento radioterápicos nas grandes cidades do Brasil tem Aceleradores Lineares. No interior ainda existem umas poucas bombas, mas devem ser substituídas até 2020.
Uma cratera radioativa – o usina nuclear de Chernobyl certamente é um dos acidentes nucleares mais famosos do mundo. Durante alguns testes em 1986, o 4º reator superaqueceu e explodiu, contaminando a cidade de Chernobyl e a de Pripyat onde moravam os trabalhadores da usina nuclear. Estima-se que 6 milhões de pessoas tenham sido expostas a altíssimos níveis de radiação e que cerca de 93mil tenham morrido depois. A nuvem de poeira radioativa foi detectada no mundo inteiro. Os que sobreviveram tiveram que lidar com mutações genéticas terríveis, mutilações, monstruosidades, anormalidades e câncer. Calcula-se que a explosão teve o efeito de 100 bombas atômicas de Hiroshima. Embora a natureza esteja tentando se recuperar ao redor, ela ainda está muito contaminada e as folhagens outrora verdes agora são vermelhas. A cidade só terá níveis mais seguros de radiação daqui a mil anos, quando a meia-vida do urânio decair pela metade. A usina foi desativada na década de 90, mas os 3 reatores restantes precisam de supervisão constante por conter material radioativo, ou seja, ainda tem gente que tem que ir trabalhar naquele lugar. Ano passado o governo ucraniano começou a construir um novo sarcófago para diminuir ainda mais a radiação vinda da cratera do reator 4. O sarcófago antigo construído na década de 80 já estava se deteriorando.
O pesadelo japonês – Fukushima provavelmente irá mudar todo o planeta tal qual o conhecemos. O motivo disto são os milhões de litros de material radioativo que vazaram no oceano. Um terremoto de magnitude 9.0 e um tsunami atingiram em cheio a usina nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011. Para se ter uma ideia, o acidente nuclear é o pior da história! Nem Chernobil foi tão ruim quanto ele. Três dos seis reatores derreteram e vazaram e as cidades ao redor foram esvaziadas. O problema da usina é que ela foi construída muito próxima do mar, então os vazamentos o atingem com extrema facilidade e contaminam o mundo todo. Embora as autoridades japonesas estejam se empenhando, a tarefa não tem sido nada fácil, pois novos vazamentos são recorrentes e as outras 3 torres tem que se manter ativas para suprimir as necessidades de cidades ao redor, por isso tem gente que precisa ir trabalhar lá também. A descontaminação das águas do oceano é uma tarefa muito difícil e ninguém sabe qual será o impacto na vida marinha, mas a radiação já foi detectada a mais de 320 km da costa japonesa. A boa notícia é que nós sabemos mais ou menos como lidar com os contaminados, já que o acidente de Chernobil deu umas boas pistas. A má notícia é que nós ainda veremos o que um oceano radioativo pode ser capaz de fazer nas próximas décadas ou séculos.
Seja por acidente ou por obra da própria natureza, esses lugares devem ser mantidos à distância por precaução. Alguns como Chernobyl recebem visitantes do mundo todo, mas os visitantes sempre são alertados de que a exposição prolongada à radiação é perigosa e a escolha pelo passeio é de inteira responsabilidade de cada um. No final das contas é você quem escolhe: a radiação é sua amiga ou sua inimiga?
SAIBA MAIS:
Minerais pesados das areias das praiais de Guarapari (ES): distribuição, proveniência e fatores de risco à saúde - Daniel R. do Nascimento Jr., Vítor A.P. Aguiar, Paulo C.F. Giannini - Depto. de Geologia Sedimentar e Ambiental da USP e Instituto de Física da USP
Somália comprometida – em 2004 surgiram alguns barris estranhos na costa da Somália depois de um forte tsunami. O governo somali teve um frio na espinha. Segundo a máfia italiana supracitada, eles também enterraram cerca de 600 barris de lixo radioativo e tóxico oriundos inclusive de hospitais na costa da Somália. Possivelmente estes barris que apareceram poderiam ser os enterrados. Se um deles abrisse ou se rompesse seria um desastre que assolaria um país que já vive numa miséria histórica e quase irrecuperável. A culpa era de quem? O governo não protegia a costa na década de 90 e a máfia estava cheia de espertalhões. Decida você mesmo.
O alto preço da bomba atômica – os japoneses pagaram feio pelos ataques e as vítimas literalmente viraram pó. Os poucos sobreviventes vivem com uma péssima qualidade de vida e saúde. Por outro lado, os Estados Unidos tem uma pedra no sapato também. O Hanford Site, em Washington, guarda os resquícios do lixo nuclear que sobraram da fabricação da bomba atômica. Ali também foi guardado o lixo radioativo do que restou da fabricação de armas de destruição em massa da Guerra Fria, onde o país ganhou 60mil armas nucleares de defesa e ataque. Estão armazenados 2/3 de todo lixo radioativo do país que inclui 53 milhões de galões de líquido nuclear, 25 milhões de metros quadrados de sólidos nucleares e 200 metros quadrados de água do subsolo contaminada. O problema maior é que o lugar fica bem no coração do país, pertinho da sede do governo.
Lago comprometido – o complexo industrial Mayak no nordeste da Rússia foi palco de um acidente nuclear em 1957. Não foi grande como o da Ucrânia, mas foi feio mesmo assim. Uma explosão jogou 100 toneladas de materiais radioativos num tamanho considerável de área, incluindo o lago Karachay, muito usado pela população local. Acredita-se que 400mil pessoas tenham sido expostas a altíssimos níveis de radiação e o ambiente do local mudou drasticamente. Incêndios e tempestades de poeira massivos são frequentes agora. A região talvez seja uma das mais perigosas do pais e a água do lago poderia facilmente matar um adulto em uma hora. A União Soviética manteve o segredo até os anos 80, quando o número de contaminados começou a preocupar.
Irlandeses radioativos – se você gosta de apontar o dedo e xingar os russos e ucranianos pelos piores acidentes nucleares, então pare e leia isto: a oeste da costa inglesa há um lugar chamado Sellafield que era um complexo de produção de plutônio enriquecido para bombas nucleares. Centenas de acidentes transformaram o local num dos mais radioativos do mundo. Cerca de 2/3 dos prédios do complexo tem entrada proibida por causa de seus altíssimos níveis de radiação. Mas calma, a coisa vai piorar muito! Cerca de 8 milhões de litros de lixo radioativo vazaram no mar, transformando o mar irlandês no mais radioativo do mundo! Obviamente isso contaminou o Atlântico também. O local foi desativado e as operações transferidas para um complexo industrial, mas o governo britânico foi acusado de omitir e não fiscalizar várias indústrias nucleares, causando um prejuízo ambiental muito prejudicial a todo o planeta.
Antiga plataforma de testes nucleares no Cazaquistão. |
Lugar de testes nucleares que é um país hoje – a União Soviética fazia testes de armas nucleares no território que hoje é o polígono do Cazaquistão. Embora os relatórios do projeto tenham definido a área como inabitada, isto nunca foi verdade. Cerca de 700mil pessoas viviam na área na época. Acredita-se que em 40 anos (de 1949 a 1989) pelo menos 456 testes de explosões nucleares tenham acontecido, tornando-o um dos locais com mais explosões atômicas do mundo. Tanto tempo de exposição só podia dar em caca, né? Cerca de 200mil pessoas foram expostas diretamente à radiação e isso causou mutações genéticas graves. O projeto foi abandonado em 1991, quando a Guerra Fria era só um fantasma do passado.
O segredo sob a neve – 4 décadas de lixo nuclear certamente podem ser má ideia. Agora imagine isso tudo no meio da Sibéria. A Cooperativa Química Siberiana tem piscinas descobertas com 125mil toneladas de lixo radioativo estocado . A coisa toda pode ter vazado pros lençóis freáticos. A vida selvagem ao redor já foi afetada e a fauna também. Isso sem contar os inúmeros acidentes com explosões que espalharam radiação e o roubo de plutônio. Não se engane pela densa e branca neve, ela guarda segredos sombrios de uma paisagem nada amigável e extremamente letal.
Mineração maldita – Quirguistão é um país pequeno e muito perigoso. Não falo de terroristas malucos, nem de usinas nucleares explodidas, mas de minas que podem te matar facilmente. Segundo o Instituto Blacksmit, uma pesquisa realizada em 2006 provou que é uma das regiões mais perigosas e poluídas da Terra. As diversas minas e complexos de processamento de urânio em Mailuu-Suu criaram 36 depósitos de lixos radioativos ou 2 milhões de metros cúbicos. Ficou com medo? Não? Pois então vou te apavorar: o local é conhecido por ter alta atividade sismológica, ou seja, tem terremoto toda hora. Esses resíduos podem facilmente chegar a um rio e contaminar as regiões próximas, afetando milhares de pessoas e causando uma catástrofe de proporções épicas.
Minério maldito – o Quirguistão pode ter tido problemas com suas minas, mas a cidade de Karunagappally na Índia certamente tem uma dor de cabeça maior. Uma série de raros metais, como a monazita, acabou vazando de algumas minas graças à erosão das terras ao redor e foram parar em rios próximos que se tornaram muito radioativos e estão contaminando as pessoas e os peixes. Os índices de câncer aumentaram significativamente e os cientistas estão monitorando a região.
Forte radioativo – um forte francês construído em 1842 chamado Fort d’Aubervilliers foi palco de várias batalhas, mas também o laboratório da filha da famosa cientista Marie Curie, a Irène Joliot-Curie, e seu marido Frédéric Joliot-Curie. Ali eles estudaram o radio-226, o césio-137 e realizaram testes para armas nucleares do governo francês durante os anos 20 e 30. Cerca de 60 metros cúbicos de solo foram contaminados.
Frédéric e Irène |
A reciclagem que custou caro – em Los Barrios, na Espanha, está a maior fábrica de aço inoxidável do mundo, a Acerinox. Tudo estaria bem se não fosse por uma falha grave de equipamentos. Em 1998, uma cápsula de césio-137 não foi detectada pelos equipamentos de monitoramento e acabou sendo derretida junto com outras sobras de metal. Pra piorar, os detectores das chaminés da fábrica também não detectaram a radiação. A substância evaporou e criou uma nuvem que viajou pela Europa. Ela foi detectada na França, Alemanha, Itália, Áustria e Suíça a níveis até mil vezes maiores do que os normais de radiação. Cerca de 6 pessoas da fábrica foram expostas diretamente à radiação. A limpeza, descontaminação do local e armazenamento de lixo radioativo deu um prejuízo de 6 milhões de dólares à empresa. Ela ainda teve um prejuízo de cerca de 20 milhões de dólares de produção perdida, já que todo o metal derretido foi contaminado. Outras duas empresas que trabalhavam em conjunto com eles também tiveram prejuízos e contaminação.
Vizinho letal – em 1989, os moradores de um prédio em Kramatorsk, na Ucrânia, exigiram às autoridades que os níveis de radiação fossem medidos no local. O pedido pode lhe parecer estranho, mas os moradores tinham muitos motivos para acreditar que algo estava muito, mas muito errado ali. Tudo porque em 9 anos, 6 residentes morreram de leucemia e 17 tiveram outras complicações e vários tipos de câncer num único prédio. Era coincidência demais! Eis que o pior pesadelo deles se concretizou quando autoridades descobriram uma cápsula de césio-137 (semelhante à da foto acima) presa no concreto de uma parede no apartamento 85. Mas como uma cápsula radioativa poderia ter ido parar numa parede? O que se sabe é que durante a construção do prédio na década de 70 a cápsula sumiu de um equipamento de medição. Provavelmente ela caiu no meio do misturador de concreto e o final você já sabe. Ninguém entendeu por que as autoridades não foram avisadas e por que não houve uma intensa busca pelo material, já que ele era muito nocivo. Por fim a cápsula foi removida, a parede refeita, o prédio descontaminado e os vizinhos agora podem dormir em paz. Se quiser visitar o local, procure pela rua Gvardeytsiv Kantemirovtsiv, prédio 7.
Areia assassina – Yangjiang é uma região da China com alguns vilarejos. Depois de observarem as altas taxas de câncer e, consequentemente, mortalidade nos moradores, as autoridades começaram a investigar o local. Não fazia sentido que aqueles agricultores estivessem doentes. Eis que foram detectados altos níveis de radiação vindos da areia local, que tem em sua composição monazita, radio, radônio e actínio. O pior de tudo é que as casas das pessoas eram feitas com esse material. Embora o governo chinês tenha tentado retirar os moradores de lá, muitos se recusaram a sair.
Praia letal – se você achou um absurdo a região chinesa com areia radioativa, saiba que no Espírito Santo, aqui no Brasil, tem uma praia chamada Guarapari cuja areia é preta e tem tanta radiação que está preocupando os especialistas. A composição dela é de basicamente monazita, tório e urânio, ou seja, elementos naturalmente radioativos. Segundo o físico nuclear e chefe do Departamento de Física da Universidade Federal do ES, o Marcos Tadeu Orlando, os níveis de radiação são relativamente altos e é desaconselhável levar crianças e idosos para essa praia o tempo todo, já que eles são muito mais suscetíveis à radiação. Também não se deve passar muitas horas por lá e nem levar a areia pra casa.
Péssima ideia! |
O preço do descaso – um ano após o gravíssimo acidente de Chernobil, eis que uma catástrofe nuclear aconteceu no Brasil. Em 1987 uma clínica de radioterapia de Goiânia, em Goiás, foi abandonada. Por algum motivo, o dono simplesmente largou o equipamento de radioterapia para trás que na época era uma bomba de césio que continha o material césio-137. Um pobre catador de ferro encontrou a cápsula selada de puro chumbo e aço. Vendo que poderia ganhar uma grana legal, vendeu-a para um dono de um ferro-velho, o Devair Ferreira. Curioso para saber o que era aquilo e o que guardava, Devair rompeu o lacre, abriu a cápsula e ficou encantado com o pó que brilhava no escuro com uma cor azulada. Ele não tinha sequer ideia do que era, mas mesmo assim distribuiu para alguns amigos e até deu para a sua filha Leide. Em poucas horas, a família e os vizinhos começaram a sentir os efeitos da longa exposição. Eles ingeriram, aspiraram e tocaram no césio-137 que por ser um pó num lugar úmido, piorava e muito a situação e tornava a descontaminação quase impossível já que se agarrava em tudo. Náuseas, cansaço, tonturas, vômitos e diarreias fizeram com que a esposa de Devair, Maria Gabriela, suspeitasse de algo da cápsula e a levou para a vigilância sanitária. Dias depois a polícia, o exército e toda uma parafernália de cientistas tinham cercado o bairro inteiro e começaram a desocupação do local. As vítimas morreram horas depois, com sintomas graves, começando por Maria Gabriela. Estima-se que 600 pessoas tenham sido contaminadas na cidade toda, mas a maioria sobreviveu, muito embora sofram com os efeitos da radiação até hoje. Algumas com contaminação mais grave foram isoladas e sofreram muito preconceito ao longo de suas vidas, mas hoje não apresentam nenhum risco de contaminação, então é totalmente seguro se aproximar delas. Atualmente um parque abriga os contêineres com o lixo atômico proveniente das casas e do ferro-velho que estão lacrados com chumbo e concreto dentro de uma montanha artificial e o lugar tem índices de radiação seguros. Os corpos dos mortos foram lacrados em caixões de chumbo e enterrados em covas de concreto. Acredita-se que somente 180 anos depois do desastre é que a radiação dos corpos e do lixo chegará a níveis totalmente seguros. O acidente revolucionou as leis brasileiras sobre energia nuclear e hoje a fiscalização é muito mais rígida. Eu sei porque sou da área. Ah e a cápsula foi esvaziada, descontaminada e hoje é um troféu em homenagem aos heróis que ajudaram na descontaminação. O acidente também mobilizou o governo brasileiro para que obrigasse os hospitais e clínicas a trocarem as bombas de cobalto-60 e césio-137 por Aceleradores Lineares que funcionam apenas com energia elétrica e não usam nenhum material radioativo, evitando assim mais desastres nucleares e melhorando a qualidade do tratamento de câncer.
Essa é uma antiga bomba de cobalto-60. A de césio de Goiânia era parecida com ela. |
Esse é um Acelerador Linear moderno e muito utilizado no Brasil para o tratamento de câncer. |
Atualmente a grande maioria dos centros de tratamento radioterápicos nas grandes cidades do Brasil tem Aceleradores Lineares. No interior ainda existem umas poucas bombas, mas devem ser substituídas até 2020.
01. Vista aérea da cratera que se formou depois da explosão no 4º reator. 02. Novo sarcófago sendo construído sobre o antigo reator. Clique para ampliar. |
Uma cratera radioativa – o usina nuclear de Chernobyl certamente é um dos acidentes nucleares mais famosos do mundo. Durante alguns testes em 1986, o 4º reator superaqueceu e explodiu, contaminando a cidade de Chernobyl e a de Pripyat onde moravam os trabalhadores da usina nuclear. Estima-se que 6 milhões de pessoas tenham sido expostas a altíssimos níveis de radiação e que cerca de 93mil tenham morrido depois. A nuvem de poeira radioativa foi detectada no mundo inteiro. Os que sobreviveram tiveram que lidar com mutações genéticas terríveis, mutilações, monstruosidades, anormalidades e câncer. Calcula-se que a explosão teve o efeito de 100 bombas atômicas de Hiroshima. Embora a natureza esteja tentando se recuperar ao redor, ela ainda está muito contaminada e as folhagens outrora verdes agora são vermelhas. A cidade só terá níveis mais seguros de radiação daqui a mil anos, quando a meia-vida do urânio decair pela metade. A usina foi desativada na década de 90, mas os 3 reatores restantes precisam de supervisão constante por conter material radioativo, ou seja, ainda tem gente que tem que ir trabalhar naquele lugar. Ano passado o governo ucraniano começou a construir um novo sarcófago para diminuir ainda mais a radiação vinda da cratera do reator 4. O sarcófago antigo construído na década de 80 já estava se deteriorando.
O pesadelo japonês – Fukushima provavelmente irá mudar todo o planeta tal qual o conhecemos. O motivo disto são os milhões de litros de material radioativo que vazaram no oceano. Um terremoto de magnitude 9.0 e um tsunami atingiram em cheio a usina nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011. Para se ter uma ideia, o acidente nuclear é o pior da história! Nem Chernobil foi tão ruim quanto ele. Três dos seis reatores derreteram e vazaram e as cidades ao redor foram esvaziadas. O problema da usina é que ela foi construída muito próxima do mar, então os vazamentos o atingem com extrema facilidade e contaminam o mundo todo. Embora as autoridades japonesas estejam se empenhando, a tarefa não tem sido nada fácil, pois novos vazamentos são recorrentes e as outras 3 torres tem que se manter ativas para suprimir as necessidades de cidades ao redor, por isso tem gente que precisa ir trabalhar lá também. A descontaminação das águas do oceano é uma tarefa muito difícil e ninguém sabe qual será o impacto na vida marinha, mas a radiação já foi detectada a mais de 320 km da costa japonesa. A boa notícia é que nós sabemos mais ou menos como lidar com os contaminados, já que o acidente de Chernobil deu umas boas pistas. A má notícia é que nós ainda veremos o que um oceano radioativo pode ser capaz de fazer nas próximas décadas ou séculos.
Seja por acidente ou por obra da própria natureza, esses lugares devem ser mantidos à distância por precaução. Alguns como Chernobyl recebem visitantes do mundo todo, mas os visitantes sempre são alertados de que a exposição prolongada à radiação é perigosa e a escolha pelo passeio é de inteira responsabilidade de cada um. No final das contas é você quem escolhe: a radiação é sua amiga ou sua inimiga?
SAIBA MAIS:
Minerais pesados das areias das praiais de Guarapari (ES): distribuição, proveniência e fatores de risco à saúde - Daniel R. do Nascimento Jr., Vítor A.P. Aguiar, Paulo C.F. Giannini - Depto. de Geologia Sedimentar e Ambiental da USP e Instituto de Física da USP
Avaliação da radioatividade natural em areias das praias da Grande Vitória, Espírito Santo – Reginaldo R. Aquino – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP (IPEN)
Radiação para leigos - perguntas e respostas - Antiga postagem do U Mad? onde tiro várias dúvidas e explico de forma fácil o que é a radiação
CÉSIO 137 GOIÂNIA - Site oficial com informações, fotos e dados sobre o pior acidente nuclear do Brasil
Chernobyl Accident 1986 - site da World Nuclear Association com detalhes e muitas referências científicas sobre o grave acidente nuclear da Ucrânia. (em inglês)
Chernobyl Nuclear Accident - página da Agência Internacional de Energia Atômica com conteúdo sobre a usina de Chernobyl. (em inglês)
Chernobyl Nuclear Accident - página da Agência Internacional de Energia Atômica com conteúdo sobre a usina de Chernobyl. (em inglês)
Fukushima Accident - site da World Nuclear Association com detalhes e estudos
científicos sobre o pior acidente nuclear do mundo até agora. (em inglês)
Fukushima Nuclear Accident - página da Agência Internacional de Energia Atômica com conteúdo atualizado sobre a situação da usina de Fukushima. (em inglês)
Legambiente - página oficial da ONG italiana. (em italiano)
Mailuu-Suu Legacy Uranium Dumps - site do Instituto Blacksmith sobre o perigo das minhas do Quirguistã. (em inglês)
Legambiente - página oficial da ONG italiana. (em italiano)
Mailuu-Suu Legacy Uranium Dumps - site do Instituto Blacksmith sobre o perigo das minhas do Quirguistã. (em inglês)
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