MadCurioso: Paricutin, o registro de um vulcão
Vulcões são estruturas que ainda não conseguirmos compreender totalmente, talvez pela maioria ser massivamente grande ou extremamente agressiva. Isso por si só exige que os estudiosos sejam pessoas com mais coragem e determinação. E também pudera! Por toda a história da humanidade vilarejos, cidades e impérios inteiros foram massacrados pelas erupções que chegaram de surpresa. Pompéia que o diga, cujas vítimas estão conservadas até hoje graças à mega explosão do Vesúvio na Itália.
O estudo dos vulcões, a vulcanologia, nos revelou muito sobre eles ao longo do tempo. Entretanto, o que os vulcanologistas jamais poderiam imaginar é que um dia poderiam registrar o nascimento, a vida e a morte de um vulcão na era moderna, principalmente pelo fato de que a grande maioria esmagadora dos vulcões já estava aqui muito antes da humanidade pensar em surgir. Essa é a fascinante história do pequeno e tímido Paricutín.
Em 20 de fevereiro de 1943, os habitantes do vilarejo Paricutín que ficava no estado de Michoacán, no México, achavam que seria só mais um dia normal. Apesar de já haverem tido tremores e ruídos estranhos nos dias anteriores, ninguém parecia muito preocupado com algo que era tão comum por ali. Essa parte oeste do México é famosa por ter muitos vulcões, a maioria extintos.
Dionisio Pulido e sua esposa Paula Pulido eram dois fazendeiros da região que estavam preparando a terra depois de colher o milho. Eles estavam queimando os restos de mato e arbustos secos em um campo em uma colina quando às 16h uma pequena fissura apareceu sob seus pés. A princípio não ligaram muito, afinal ela não parecia ter mais do que 30cm de profundidade. Às 17:30h, um estrondo parecido com o de um raio ecoou por todo o campo e o chão começou a tremer. Dionísio então olhou para trás e levou um susto. Medindo cerca de 2 metros, a fissura começou a soltar uma fumaça cinza, densa e bastante intensa, com um assovio que chegava a irritar os ouvidos e que nunca parava. O intenso cheiro de ovos podres espantou o casal. Esse cheiro é característico do enxofre, substância muito encontrada no interior dos vulcões.
No dia seguinte, Dionisio chamou seus vizinhos do vilarejo e contou o que tinha visto. Assustados, mas também curiosos, os habitantes locais correram para ver o que estava acontecendo no milharal. A visão era assustadora: pedras incandescentes e muita fumaça estavam sendo jorradas a enormes alturas por um buraco que havia se formado num cone que já crescia assustadoramente rápido e a olho nu. Acredita-se que o cone já tivesse pelo menos 50 metros de altura.
O vulcão Paricutin ainda bebê. |
Dois dias depois e a fumaça não tinha cessado por um segundo sequer. Em menos de uma semana, o cone atingiu a marca dos 100 metros de altura.
Paricutin com 5 dias de vida. |
Foi então que o pior aconteceu: a lava começou a ser expelida pelo buraco. Segundo o relato de Celedonio Gutierrez, outro morador da região, assim que a noite caiu eles puderam ouvir ruídos como ondas do mar e viram chamas vermelhas que podiam chegar a mais de 800 metros saindo de dentro do cone. Então essas chamas explodiam como calêndulas douradas e caíam como uma chuva de fogo no chão. Era definitivamente um vulcão e bastante ativo. O pequeno vulcão Paricutín tinha nascido e não estava para brincadeiras.
Depois de um mês, William F. Foshag, um especialista em minerais do Museu Nacional Americano, seguiu com o Dr. Jenaro González-Reyna para o vilarejo. Os dois documentaram toda a vida de Paricutín em fotos, estudos e amostras recolhidas do local.
Em um ano o vilarejo teve que ser evacuado.
Era impossível conviver com o pequeno monstrinho que insistia em cuspir pedras, lava e fumaça pra todos os lados. Nessa época o cone já media 336 metros de altura.
Antes de deixar suas terras, Dionisio pôs uma placa perto do vulcão que dizia:
“Este vulcão é de propriedade e operação de Dionisio Pulido.”
Apesar de ter perdido tudo, pelo menos ele tinha um bom humor. Com o tempo, as cidades ao redor também acabaram sendo evacuadas por segurança.
Em 1944, os vilarejos estavam quase totalmente cobertos de lava, cinzas e pedras. O pequeno logo virou gigante e atingiu a marca de impressionantes 424 metros de altura.
Acredita-se que Paricutín tenha expelido 90% do material só no primeiro ano de vida, o que explica porque ele perdeu a força tão rápido nos anos seguintes.
As mortes de 3 pessoas por relâmpagos na região foram atribuídas à intensa atividade do vulcão.
Ele continuou em atividade por 9 anos, até que em 1952 finalmente perdeu forças e se calou para sempre. Paricutín tinha finalmente sido extinto, ou seja, não representava mais perigo porque não explodiria mais. Ficaram apenas os registros fotográficos e estudos feitos na região realizados por Foshag e Reyna.
Era a primeira vez que a humanidade moderna podia assistir de camarote o nascimento, vida e morte de uma das forças mais poderosas da natureza.
Hoje resta apenas o cone e o que sobrou do vilarejo, incluindo uma igreja quase totalmente engolida pelas cinzas e lava e que é uma atração popular entre os turistas.
Dentro de sua torre permanece o sino, como um sentinela que vigia o que um dia foi um vulcão muito ativo.
A lava ocupou um território de 25km no total e destruiu a vegetação do local, substituindo por um mar de rochas negras.
Na época, um vôo da PanAm da Cidade do México para Los Angeles foi desviado só para mostrar aos passageiros o novo vulcão.
Imagens dele em atividade também apareceram no filme “Capitão de Castela” (Capitain from Castile) de 1947, o que rendeu uma boa graninha para os moradores da região que fizeram uma ponta no filme e que cujo dinheiro serviu para compensar um pouco suas perdas com a evacuação. A região de Paricutín é hoje considerada uma das 8 maravilhas naturais do mundo graças ao solo fértil originado pelas cinzas do vulcão.
O vulcão Paricutin hoje. |
VEJA MAIS:
-Pequeno documentário de 1943 sobre o vulcão Paricutin (em inglês): link
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