MadBizarrice Halloween: Seitas Macabras - O templo dos povos
Como um defensor das minorias e dos pobres poderia causar tanto caos? Essa é a história de Jim Jones, o líder do Templo dos Povos.
ATENÇÃO: o texto a seguir tem imagens e conteúdo que podem ser fortes a leitores sensíveis. Recomendamos cautela.
James Warren Jones, também conhecido como Jim Jones, nasceu em Indiana, Estados Unidos. Desde muito jovem se interessava por política e mística, mas nunca teve formação teológica formal. Era um dos maiores defensores da integração racial em uma era que negros e brancos mal podiam conviver juntos em solo americano.
Em 1954, numa área racialmente integrada da cidade de Indianápoles, Jim fundou sua própria igreja, o Templo dos Povos. Ele era bem conhecido na região e junto com sua esposa, incentivavam os membros a adotarem crianças de diferentes raças, promovendo assim uma miscigenação completa, o que obviamente era um pesadelo para alguns líderes políticos e religiosos. Ataques de extremistas racistas eram comuns tanto a membros, como contra o próprio líder Jones.
Foi quando uma ameaça real começou a apavorar sua mente que Jones chegou a viajar para o Brasil em busca de um local seguro para implantar um novo templo e se safar da destruição nuclear em 1961. Para ele, Minas Gerais era um dos lugares mais seguros contra um ataque nuclear, porém Belo Horizonte tinha pouco estrutura para receber algo tão monumental e ele teve que se mudar para o Rio de Janeiro. Lá conheceu a pobreza de perto, mas voltou tempos depois para reerguer o templo de Indiana que estava se desfazendo sem a presença do líder. Porém Jones agora tinha uma nova visão das coisas.
Em 1970, transferiu o templo para São Francisco. Seu objetivo era expandir a religião o máximo possível e para isto incentivava os membros a cuidarem de viciados, pobres e sem-teto. Tudo era financiado por doações, fossem dos próprios membros ou de pessoas influentes. A coisa toda era tão popular que eles chegaram a ter uma estação de rádio e uma gravadora de discos própria!
Mas nem tudo era um mar de rosas e ex-membros começaram a denunciar Jones e seus seguidores de lavagem cerebral e abusos. Sob extrema pressão das autoridades e mídia, Jones decidiu que os Estados Unidos não tinha mais espaço para eles e em 1974 mudou o templo para um local isolado na Guiana, aqui na América do Sul. Jones então fundou “Jonestown”, uma promissora comunidade rural autossustentável do Templo dos Povos. Em 1977, 50 membros se mudaram dos Estados Unidos para a Guiana. Em 1978 esse número já ultrapassava 900 membros, sendo a maioria afro-americanos.
Você pode pensar que devia ser um lugar incrível, não é mesmo? Na verdade o solo era muito pobre e havia escassez de água doce. Isso por si só gerou uma crise interna e logo a vida na comunidade se tornou insustentável. Sem contar as inúmeras simulações de suicídio coletivo que Jones obrigava seus membros a fazerem para caso houvesse uma emergência. A lavagem cerebral na comunidade era comum e cruel. Ninguém podia questionar as regras e qualquer um que tentasse se rebelar era espancado e torturado. Jones exigia lealdade máxima e eram frequentes as denúncias de membros sobre parentes de suas próprias famílias. Seus discursos inflamados deveriam ser admirados pelos membros dia e noite. Havia ainda quem dissesse que orgias sexuais com crianças eram comuns também. Sabe-se que havia ainda o uso frequente de drogas como LSD, barbitúricos e outras drogas de controle mental.
Parentes dos membros começaram a exigir que o governo tomasse providências para resgatar seus entes daquele lugar. A pressão foi tanta que em 1978, Leo Ryan, um congressista da Califórnia, visitou o local. Isso não agradou nem um pouco Jones porque obviamente ele odiava que as agências de inteligência americanas e o governo americano se metessem nos seus assuntos o tempo todo. Informado de que sua vida corria um grande perigo, Ryan encurtou a viagem e exigiu que Jones libertasse alguns membros, o que foi feito a contragosto do líder. Mas Jones não facilitaria as coisas para ninguém. Primeiro armou uma emboscada ao mandar seus capangas cercarem o comboio do congressista e abrir fogo contra todo mundo um pouco antes de chegarem ao avião. Ryan foi morto junto com mais 4 pessoas, mas alguns membros de sua comitiva escaparam.
Jones agora sabia que o governo americano definitivamente não iria deixar aquilo barato. Era hora de tirar sua carta da manga, a “Noite Branca”. Ele convocou todos os membros para o pavilhão de reuniões e pôs seus homens armados ao redor. Ele contou o que havia acontecido e afirmou que militares guianos estavam prestes a invadir a colônia, prender e torturar todo mundo, inclusive crianças e idosos. Então eles precisavam se “preservar”. Para isto, fariam finalmente o suicídio coletivo que tanto haviam praticado. A ordem era primeiro dar um suco de uva misturado com cianeto e tranquilizante às crianças e depois os adultos o tomariam. Sobreviventes contaram que os adultos recebiam o suco com certa alegria e que havia uma espécie de transe entre eles enquanto tomavam o tal suco, porém o pânico se instaurou quando algumas pessoas caíram em agonia, espumando pela boca, sangrando pelas narinas e gritando de dor enquanto se contorciam. Quem tentasse fugir era morto a tiros, mas mesmo assim alguns conseguiram se infiltrar na selva e escapar do horror todo. Os cadáveres se multiplicavam pelo chão.
Como era de praxe gravar os discursos de Jones, claro que o último não poderia ficar de fora e dessa vez tiveram gritos de agonia dos membros no fundo, enquanto morriam envenenados. No áudio é possível ouvir ele pedir para as pessoas não terem medo de morrer, que a morte era apenas uma passagem para o outro plano e que era amiga. No final, ele disse:
"Nós não cometemos suicídio, cometemos um ato de suicídio revolucionário para protestar contra as condições de um mundo desumano."
Jones deu um tiro em sua própria cabeça depois de finalmente terminar de discursar. Cerca de 913 pessoas morreram naquele dia, entre eles estavam 275 crianças e 12 bebês. Apenas 35 pessoas sobreviveram.
Há entretanto quem diga que nem todos os membros tomaram o veneno através do suco. Leslie Mootoo, um dos primeiros médicos a chegar na colônia, afirma que muitos corpos tinham perfurações nos ombros e costas. Isso era um sinal de que o veneno tinha sido injetado em algumas pessoas, provavelmente contra a vontade delas.
O local foi limpo pelas autoridades e nos anos 80 refugiados laocianos chegaram a ocupar a colônia novamente, mas foram expulsos e a floresta se reergueu no terreno abandonado. O governo da Guiana não tem sequer o menor interesse em reabrir as rotas e permitir o turismo de curiosos pela região. Nos Estados Unidos o restante da seita se desfez. Alguns membros relataram que tinham medo de serem executados por agentes de Jones que tinham sobrevivido caso saíssem da seita, ocorrendo até mesmo alguns suicídios entre eles. Mesmo assim ela não sobreviveu sem seu líder. Os parentes dos membros mortos não tiveram acesso aos seus corpos, já que foram cremados. A repercussão internacional e o testamento polêmico de Jones e sua esposa que deixavam tudo para a antiga União Soviética azedaram ainda mais as relações dos Estados Unidos com a Rússia.
A história da macabra seita de Jim Jones e Jonestown é fonte de inspiração para o cinema, a TV e bandas/cantores como Titãs e Lana del Rey. Também serviu de “berço” para outras seitas igualmente macabras como Heaven’s Gate e a família Manson, que irei falar mais pra frente.
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