MadBizarrice Halloween: Seitas Macabras - Aum Shinrikyo

O mundo vai acabar. O que fazer? Bem, que tal uma faísca inicial para acelerar o processo?

ATENÇÃO: o texto a seguir tem imagens e conteúdo que podem ser fortes a leitores sensíveis. Recomendamos cautela.


Era 1995. O metrô de Tóquio estava em pleno funcionamento. Cinco homens se posicionaram em diferentes trens. Discretamente cada um carregava consigo sacos plásticos com um líquido incolor. Ao saírem dos trens, largaram os sacos para trás depois de furarem com a ponta do guarda-chuva, fazendo o líquido vazar e se espalhar. As portas fecharam, o trem partiu e...o caos se instaurou! O líquido evaporou e começou a circular pelos vagões. Logo as pessoas sentiram náuseas fortes, formigamento na boca, dificuldade para respirar e algumas chegaram a perder a consciência. Era sarin, um líquido volátil extremamente tóxico que atinge os sistema nervoso.


Diante do pânico, as autoridades se viram confusas. Seria aquilo um ataque terrorista? Cerca de 13 pessoas morreram naquele dia, 54 ficaram gravemente feridas e 980 tiveram outros problemas menos graves. Algumas estatísticas aumentam o número de vítimas para 6mil, mas fica difícil saber a verdade porque muitas delas não se identificaram ou procuraram ajuda.


Naquela mesma semana a polícia confiscava as instalações do culto Aum Shinrikyo (Verdade suprema traduzido) por todo o Japão. Na semana seguinte o que eles encontraram depôs contra Shoko Asahara e seus seguidores. Na sede do culto, próximo ao Monte Fuji, a polícia encontrou explosivos, armas químicas e um MIL MI-17, um helicóptero russo militar. A perícia afirma que havia material suficiente para produzir uma grande quantidade de sarin, talvez o suficiente para exterminar 4 milhões de pessoas.

Polícia confisca instalações da Aum Shinrikyo.

Aum Shinrikyo foi fundada em 1984 por Shoko Asahara. Inicialmente era uma vertente da yoga, mas logo Asahara evoluiria a doutrina se baseando em elementos do budismo, hinduísmo, cristianismo e até mesmo escritos de Nostradamus. Asahara publicou uma espécie de bíblia própria e se autodeclarou o Cristo do Japão. Sua missão era tirar os pecados de seus seguidores, assim como as más ações. Ele acreditava que a terceira guerra mundial estava por vir e que um fim nuclear apocalíptico assolaria o planeta. A única forma de se salvar? Ser membro da seita, é claro! Essa pequena “elite” seria responsável pela criação do reino de Shambhala. Ele ainda afirmava que os Estados Unidos eram a verdadeira “besta do apocalipse” e que seriam os principais culpados pela destruição toda que ocorreria em 1997. Tais fatos atormentavam tanto Asahara que ele tinha surtos de ansiedade e ideias suicidas. Em 85 ele teve visões durante a meditação em que Shiva aparecia e o nomeava como Abiraketsu no Mikoto (o deus da luz que lidera os exércitos dos deuses), ou seja, ninguém menos do que o próprio fundador de Shambhala.

Shoko Asahara
A seita chegou a ter mais de 50mil membros, entre eles acadêmicos da elite japonesa. Já naquela época os animes e mangás eram populares, então Asahara utilizou esses meios para espalhar sua doutrina pelos quatro cantos do país, quiçá do mundo. Em 1989 a seita ganhou status de religião no Japão.


No final dos anos 80 o grupo começou a enfrentar uma grave crise. Era cada vez mais difícil recrutar novos membros e houveram muitas acusações de fraude no recrutamento. Membros eram proibidos de deixarem a seita e eram obrigados a fazerem doações frequentes. Em 92 o grupo contava com 20mil membros. Terayuki Majima acabou se afogando acidentalmente durante um ritual e seu corpo foi cremado. As cinzas foram espalhadas num lago próximo da sede. Outro homem foi morto depois de tentar sair em 1989. O advogado Tsutsumi Sakamoto, sua esposa e seu filho de 1 ano foram mortos porque Sakamoto estava tentando mover uma ação coletiva contra a seita. Asahara nessa época pregava o conceito de “poa”, ou seja, pessoas com karma ruim estavam destinadas ao inferno e só reencarnariam se tivessem intervenção de pessoas iluminadas, porém elas podiam se salvar deste destino cruel se fossem assassinadas. Aparentemente Sakamoto e sua família eram um desses desafortunados.

Nos anos 90 ele tentou ganhar as eleições do governo japonês através de 25 membros que se candidataram. Perdeu e ficou tão furioso que acusou maçons e judeus de conspiração, ordenando a produção de toxina botulínica e fosfogênio para atacar o governo japonês. Isso provocou uma deserção em massa de membros. Por sorte a produção de toxina botulínica não deu certo. Eles até tentaram atacar 2 bases navais americanas, o aeroporto de Narita, o palácio imperial, prédios militares e uma sede de um culto rival com caminhões com pulverizadores, mas ninguém se contaminou. Asahara precisava de um lugar melhor para produzir fosfogênio e usou 14 empresas fantasmas para comprar vários acres de terra em Namino. O problema é que essas atividades ilegais já estavam na mira das autoridades e logo apreensões de material e prisões de membros ocorreram por todo o país.
 
Asahara não desistira fácil, embora sua saúde mental se deteriorasse cada vez mais. Seus estoques de armas tinham sido destruídos, seu culto estava com poucos membros e ele sofria sérias acusações de homicídio, contrabando, conspiração e terrorismo. Era hora de mudar de tática. Ele começou a aparecer frequentemente na TV e comandou uma rádio russa direcionada ao Japão. Seu objetivo era combater as supostas conspirações de judeus, maçons, holandeses, a família real britânica e rivais religiosos.

Entre 1992 e 1994, o grupo produziu antrax e sarin, sendo que o último tinha tido total eficácia em pequenos ataques realizados contra cultos rivais. Asahara tinha planos para produzir LSD, PCP, metanfetamina e outras drogas afim de conseguir uma lavagem cerebral ainda maior em seus seguidores. Depois de um novo ataque fracassado com sarin, um dos membros do culto deixou suas impressões digitais sem querer no local do ataque e a polícia iniciou uma investigação que incluía investigar todos os prédios do grupo. Temendo ser descoberto, Asahara ordenou que mais sarin fosse produzido e que um novo ataque ao metrô de Tóquio fosse realizado o quanto antes afim de distrair os policiais e ganhar tempo para a Aum. O resto da história você já sabe.



Naquele mesmo ano de 95, um tempo depois um dispositivo com cianeto de hidrogênio estava preparado para espalhar mais gás no sistema de ventilação do metrô. Um ataque que provavelmente mataria 10mil pessoas de uma vez. Por sorte foi impedido quando um papel em chamas foi apagado dentro do banheiro. Ele era o gatilho de todo o ataque.


O ataque com sarin é a segunda pior tragédia do Japão, só perde pras duas bombas atômicas jogadas em Hiroshima e Nagazaki. Depois do ataque, muitas outras seitas foram encerradas. As poucas que sobraram estão sob vigilância constante do governo. Asahara foi preso, julgado e condenado à morte. Nem mesmo as alegações sobre o estado mental decadente o pouparam. Ele foi executado por enforcamento em julho de 2018 junto com mais 6 antigos membros da Aum. O grupo ainda existe e foi rebatizado de Aleph. Eles seguem os ensinamentos de Asahara, mas por enquanto não se atreveram mais a realizar ataques a ninguém.

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