MadBizarrice: monstros medievais e marinhos
Sem sombra de dúvida a Idade Média foi uma das eras mais bizarras da história, principalmente pelo fato de que tudo que era desconhecido não só se tornava um tabu, como também era visto como obra do próprio tinhoso. Não obstante disso, estavam os monstros do mar, das montanhas, dos rios, enfim, qualquer coisa que os europeus consideravam anormal em qualquer lugar que estivessem. Isso também se devia pelo fato de que não conheciam todo o planeta e principalmente porque os monarcas e o clero usavam algumas lendas para botar ordem nas cidades. Muitas delas são apenas adaptações que os europeus fizeram de lendas da mitologia grega. O legal é que muitas vieram dos próprios portugueses, os pioneiros na navegação no mundo e que também davam uma ideia de como eles viam o Brasil. Reuni aqui alguns dos mais bizarros monstros:
O bafo mais quente da galáxia - dragões são conhecidos nossos e hoje os vemos como criaturas épicas e fantásticas, mas na época eles causavam pesadelos em qualquer um que ouvisse suas histórias. Diversas histórias e lendas os retrataram como as mais terríveis das criaturas.
Podiam cuspir fogo, devoravam pessoas, podiam voar ou nadar com muita agilidade, em alguns relatos até diziam que suas caudas podiam se enrolar e sufocar as pessoas, tinham escamas muito duras e resistentes que formavam uma carapaça e dentes afiadíssimos. Eram capazes de destruir cidades inteiras se quisessem e eram muito difíceis de serem capturados.
Os chifrudinhos safadinhos - os unicórnios também hoje são vistos como criaturas fantásticas e até mesmo "do bem", mas na idade média a coisa era bem diferente. Eram descritos como criaturas de 4 patas que tinham um único chifre na cabeça e que não tinham medo de usá-lo para perfurar e matar qualquer coisa que aparecesse na sua frente.
Nenhum caçador podia capturá-lo porque era extremamente ágil e forte. No entanto, um escritor da época chamado Isidore de Sevilha relatou em um de seus contos que para capturar um unicórnio era necessário que uma virgem se colocasse diante da besta e mostrasse um peito, então ele se acalmava e se aninhava junto a ela.
Neste quadro a virgem está com os peitos de fora e a faixa diz que ela está triste porque está presa e isolada com o unicórnio. |
Com o bicho mansinho, os caçadores agora podiam pegá-lo.
O esquisitão - Blemmyae não tinha cabeça e somente um corpo de humano. Cada olho ficava em um ombro e o nariz e a boca ficavam no meio do peito. Eles acreditavam que viviam em algum lugar na África, na região da Etiópia e no sul do Egito. James Mandeville afirmava ainda que podiam ser encontrados em algumas ilhas do sul da Ásia. Os portugueses também descreveram o mesmo tipo de monstro aqui no Brasil, onde podiam ser encontrados às margens de rios e nas florestas.
O primo do Saci-pererê - o skiapode era uma criatura com uma única perna e um pé gigante. O interessante é que havia uma lenda que dizia que em dias de muito calor eles deitavam de costas e botavam o pé pra cima, afim de fazer uma sombra e se refrescar.
Os grandalhões - aparentemente o povo medieval não gostava muito da ideia de conviver com gigantes. Várias histórias contavam a captura deles e também a execução. Acreditava-se que moravam em desertos e montanhas, onde teoricamente a vida humana é quase que impossível de ser sustentada.
As sedutoras - não sei dizer quando exatamente as sereias se tornaram boazinhas, talvez a Disney tenha feito isso com o desenho da "Pequena Sereia". O caso é que na idade média eram o terror de qualquer marinheiro e Colombo relatou que encontrou várias delas na América. Enquanto navegavam em alto mar, lindas mulheres surgiam do nada e cantavam melodias que os hipnotizavam, fazendo-os pularem na água. Então elas os levavam para o fundo do mar onde os trouxas marinheiros se afogavam e depois eram devorados por elas. A parte de cima era humana, mas a parte de baixo era um peixe.
Há uma lenda que diz que o arquiduque Filipe da Áustria capturou e
exibiu uma sereia em 1548. Ao que parece, ela viveu por um bom tempo
depois em um convento onde trabalhava tecendo e que sempre tentava
voltar ao mar, então isso lhe causava alguns problemas no
convento porque ninguém queria deixá-la voltar. Uma parte bizarra da história é o relato do francês
Ganeauque que dizia que as sereias eram como moluscos do tamanho de
novilhos, mas com cara e peitos de mulher. Ele ainda afirmava que elas tinham
gosto de carne de vaca e que seus dentes eram um poderoso remédio para a disenteria. É, aparentemente ele comeu ou conheceu alguém que comeu uma sereia no jantar (santa bizarrice, Batman!). Eu me pergunto se comer uma sereia é uma forma de canibalismo. Enfim, há ainda uma "prima" delas chamada melusin, cuja principal diferença era que tinham uma cauda dupla (igual ao logo do Starbucks). Jean d`Arras escreveu a história mais famosa que dizia que uma se casou com um homem e teve 11 filhos, porém aos sábados ela assumia a forma com cauda e por isso eles não podiam se ver. Aparentemente ela era menos sacana do que as sereias.
Os híbridos - mantícoras eram seres com corpo de leão (tinha o tamanho de um tigre), cauda de escorpião e cabeça de um homem adulto. Em algumas versões também tinha chifres e dentes muito afiados. Eram conhecidos por devorarem uma pessoa inteira, até mesmo as roupas, ossos e qualquer outro acessório que tivesse como colares, anéis, moedas, etc. Por muito tempo foi uma figura que ilustrava o mal em sua mais pura forma.
Também haviam os cinocéfalos que tinham corpos humanos e cabeças de cães.
Paulo, o Diácono, relata em “A História dos Lombardos” que para afugentar os inimigos os Lombardos espalharam boatos de que tinham cinocéfalos à sua disposição e não é que deu certo? Seus inimigos recuaram na hora!
Ainda há os gêmeos ichthyocentauros chamados Bythos e Aphros. Eram como
as sereias, na verdade, pois a parte de cima era de um homem e a de
baixo era uma cauda de peixe. Alguns tinham coroas, outros chifres
feitos com partes de crustáceos e eles aterrorizavam o mar.
O hipogrifo era o fruto do cruzamento de uma égua com um grifo (corpo de leão, cabeça e asas de águia). O interessante é que grifos e cavalos eram como cães e gatos, então o cruzamento era visto como impossível.
A Tarasca era um híbrido macabro por si só. Imagine um dragão com cabeça
de leão e rosto de um velho tristonho, com pernas curtas, garras
enormes, uma carapaça de tartaruga com espinhos curvos e uma cauda longa
espinhosa com um ferrão de escorpião na ponta. Era isso que os moradores da cidade de Tarascon acreditavam que estava atacando-os.
Nenhum caçador podia destruí-la, mas a lenda diz que uma garotinha
decidiu acabar com a festa do monstro. Ela borrifou água benta, fez uma cruz com dois gravetos e fez uma coleira com seus
cabelos trançados. Isso de alguma forma domou o monstro. Chegando à cidade, os
habitantes assustados mataram-no a pedradas e a menina ficou muito triste.
O terror dos 7 mares - Leviatã era um monstro marinho conhecido por afundar qualquer embarcação que tivesse o azar de encontrá-lo. Apesar de ter sido descrito na Bíblia pela primeira vez como um dragão que simbolizava o mal, o Leviatã ganhou muito mais fama na Idade Média e também outras formas como serpente gigante do mar ou polvo gigante. Segundo o texto De Mundi Celestes Terre Risque Constitutione, ele rodeava o mundo de um extremo a outro do mar.
O esfomeado - o kraken é outra criatura famosa. As lendas surgiram na parte escandinava da Europa, onde se dizia que ele gostava de se alimentar dos peixes que ficavam perto da Noruega e Islândia. Pro azar dos vikings, era exatamente onde os pescadores conseguiam mais peixes.
Ao menor sinal da criatura eles corriam pra longe dali porque o Kraken aparentemente era uma lula, peixe ou polvo gigante que não tinha paciência nenhuma e estraçalhava com qualquer embarcação que roubasse sua comida. Algumas versões diziam que ele só destruía navios que poluíam a água e navios piratas. Há quem dizia que ele tinha 100 braços e o tamanho de uma ilha. Sabe-se atualmente que essa lenda não é tão fantasiosa assim, já que foram encontrados espécimes de lulas gigantes que causaram arrepios até em biólogos modernos.
O brasileiro - o português Pero de Magalhães de Gândavo relatou em 1576 que uma criatura chamada ipupiara tinha sido encontrada no mar de São Vicente, no atual Estado de São Paulo. Assustados, os marinheiros o mataram ali mesmo. Segue a descrição do bicho segundo o relato: "(...) tinha quinze palmos de comprido e [era] semeado de cabelos pelo corpo, e no focinho tinha umas sedas mui grandes como bigodes." Hoje sabe-se que era apenas um leão marinho, mas na época eles não conheciam esse animal e portanto era visto como o monstro ilustrado abaixo.
A punição divina - entre 1764 e 1765 em Gévaudan, na França, um lendário e macabro ser assombrava as pessoas. Era dito que arrancava as cabeças das mulheres e crianças e depois sugava seu sangue. O monstro logo ganhou a fama de ser um lobisomem que era resistente até mesmo a armas de fogo. Homens e mais homens foram enviados às florestas e montanhas para caçar a criatura, mas todos falharam. As vítimas, no entanto, continuavam surgindo devoradas. O bispo local afirmou que aquilo acontecia por causa da imensidão dos pecados da população, mas nada tinha a ver com castigo divino e sim com um grupo grande de lobos que estava atacando as ovelhas da região.
O folclórico - o Curupira hoje é visto como um protetor das florestas, mas não passa de uma lenda do folclore brasileiro vinda dos indígenas. Entretanto, quando os exploradores portugueses chegaram ao Brasil, os índios demonstravam um imenso pavor só de pronunciar o nome "curupira". O padre José de Anchieta declarou em uma carta enviada à Portugal que o Curupira era respeitado na floresta por todos os animais e plantas que se curvavam diante dele, um índio de cabelos vermelhos como o fogo e pés virados para trás, mas era um terror para os índios que nem se atreviam a provocá-lo. Obviamente os portugueses também ficaram com medo do tal curupira.
O cíclope bizarro - o navegador português Francisco Correia relatou o naufrágio da nau Nossa Senhora da Candelária, na ilha Incógnita, no séc. XVII e atribuiu a desgraça dos marinheiros atacados a seres com orelhas maiores que a dos burros, um olho no meio da testa e nariz com 4 ventas.
Como não tem ilustração do tal monstro, fique com esta belíssima ilustração de embarcação portuguesa da época. |
Os "sereios" - o padre jesuíta Henry Enriquez diz ter avistado homens-sereias em Manor. Ele os chamou de tritões. O curioso é que outro padre jesuíta chamado Eusébio de Nuremberg dizia que o cruzamento de um tritão com uma moça gerava uma criança que depois se tornaria um dos marinheiros da Galícia.
As ninfas amaldiçoadas - Cila era uma ninfa belíssima que sem querer fez com que uma criatura marinha chamada Glauco se apaixonasse perdidamente por ela. Entretanto ela não gostava dele e fugiu. Desesperado, ele recorreu a uma feiticeira chamada Circe e pediu para que ela o ajudasse. Circe, por sua vez, se apaixonou por ele. Glauco a recusa e foge, daí a Circe corre atrás dele. Como falha miseravelmente em seduzi-lo, ela se enfurece e transforma a coitada da Cila numa criatura horrenda com 12 pés, 6 cabeças em longos pescoços que ficam presos a um tronco feminino, dentes afiados e com cabeças de cães que latem sem parar em seus lombos.
Vendo a criatura, Glauco se recusa a aceitá-la (sim, ele era um grande babaca) e de vingança nunca mais aparece para Circe, que ainda o espera em sua ilha. Cila então vai pro estreito de Messina, entre a Sicília e a Itália, aterrorizar quem antes a admirava por sua exótica beleza. Quando uma embarcação se aproxima, os cães latem para avisar Cila e ela devora os marinheiros.
Caríbdis era uma ninfa nada correta. Héracles ia passando com uns bois e Caríbdis os roubou, os comeu e tentou atacar Héracles depois. Furioso, Zeus tacou um raio nela e a enviou para o fundo do mar. Ali ela se tornou um monstro marinho feroz que cria redemoinhos para afundar embarcações. A má notícia é que se você escapa da Caríbdis, vai acabar caindo nas garras da Cila e vice-versa.
De um lado o redemoinho da Caríbdis, do outro as cabeças devoradoras de Cila. Não tinha mesmo como escapar! |
A boa notícia é que Caríbdis e Cila foram lendas usadas pra alertar os marinheiros e navegantes dos perigos das rochas e corais que ficam na região do estreito de Messina e que com certeza podiam afundar qualquer navio desavisado (seriam acidentes semelhantes ao do cruzeiro moderno Costa Concordia que em 2012 teve sua lateral dilacerada pelas rochas por puro descuido do capitão). É dito que estar "entre Cila e Caríbdis" significa ficar preso entre duas alternativas igualmente desagradáveis. De qualquer forma, passar pelo estreito era algo realmente tenso e os navegantes tomavam todo cuidado possível pra não irritar os dois monstros.
Caríbdis e Cila atacando sem piedade! |
Achei interessantes as outras explicações do por que essas criaturas existirem. Se estiver interessado (a), não deixe de acessar estes outros links:
Para ver outras coisas estranhas e incomuns, acesse a nossa coluna de bizarrices!
muito bom
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