MadBizarrice: Especial de Dia das Bruxas - Leonarda Cianciulli: a saboeira do diabo


Nasceu em 1894 em Montella, Itália. Tudo indica que sua mãe, Serafina Marano, foi estuprada aos 14 anos de idade por Mariano Cianciulli, um criador de gado. Grávida, foi obrigada por seus pais a se casar com Salvatore Di Nolfi, um rapaz que tinha conhecido durante um passeio fora do internato de freiras. Leonarda foi fruto deste estupro e sempre foi odiada pela mãe, o que a fez tentar suicídio várias vezes quando ainda era criança. Sofria de epilepsia e a mãe a maltratava ainda mais por causa disso.

Entretanto há controvérsias e muitos historiadores não concordam que Leonarda tenha sido de fato fruto de um estupro ou que tenha sido maltratada pela mãe. Alguns especialistas lembram que as palavras de assassinos às vezes são usadas para tentar justificar seus atos grotescos e cruéis e que por isso muitos inventam histórias de abusos que nunca existiram. Talvez Leonarda fosse um deles. E ela nunca foi nenhuma santa, já que aos 18 foi acusada de roubo e 7 anos depois foi acusada do mesmo crime, mas em outra cidade. Em 1927 chegou a ficar presa por 10 meses sob acusação de fraude.

Seja como for, em 1914, aos 23 anos, se casou com Raffaele Pansardi que trabalhava no escritório de registro. Porém seus pais não aprovavam o casamento porque queriam que ela se casasse com seu primo. Segundo Leonarda, foi amaldiçoada na véspera de seu casamento pela própria mãe. As brigas com sua família não cessaram, o que forçou o casal a se mudar para Lariano afim de cortar relações com a mãe dela. Em 1930 sua casa foi destruída por um terremoto e então eles se mudaram para Correggio. Um fato interessante sobre Leonarda é que em todos os lugares que morou sempre teve uma fama contestável, onde quem a aborrecesse iria se arrepender mais tarde.

A vida, entretanto, não foi fácil depois daquela mudança. Leonarda e sua família tiveram que ir morar numa pensão horrível e viviam das doações de amigos e vizinhos. Raffaele consegue um emprego no correio local e começa a ganhar bem, mas a esposa ainda complementa a renda com a venda de roupas usadas. Com dinheiro para roupas novas, comida e uma casa melhor, Leonarda abre uma espécie de loja.

Pouco antes de se casar, uma cigana lhe fala que todos os seus filhos iriam morrer. Os 13 primeiros que nasceram acabaram de fato morrendo: 3 abortos espontâneos e 10 crianças que morreram quando ainda eram bebês. Apavorada, Leonarda bota a culpa na mãe pelo mau olhado. Procurou desesperadamente por bruxas e feiticeiros que a ajudassem a se livrar da tal maldição. Uma bruxa fez o “serviço” e então nasceram Giuseppe, Bernardo, Biagio, e Norma. Leonarda se torna uma mãe coruja que cuida com todo o primor dos filhos. Mais uma vez recorre a uma cigana para saber o que seu futuro estava reservando e eis que a moça lhe diz: “Em sua mão direita vejo a prisão e na esquerda o manicômio judiciário.”

Se por um lado parecia ser uma notícia péssima, por outro causou uma enorme curiosidade em Leonarda sobre ocultismo, que ela estudou com afinco. Não demora muito para se tornar uma vidente também e começar a ler as mãos de vizinhas. Agora sua fama tinha melhorado e todos a viam como uma grande mãe, generosa, agradável, doce e uma vizinha exemplar. Ela vendia amuletos e fazia amarrações. Promovia encontros em sua casa regados a boa comida e gente agradável. Porém, nem tudo eram flores. Raffaele se torna alcoólatra e gasta boa parte do dinheiro em bares. As inúmeras brigas do casal eram comuns até o dia em que ele saiu de casa e nunca mais voltou. Ela não se preocupou, afinal ganhavam bem com sua loja e conseguia manter as crianças nas escolas sem problemas.

Em 1939, Giuseppe tinha 18 anos e acabou sendo convocado pelo exército italiano para lutar na Segunda Guerra Mundial. Leonarda entrou em choque, afinal ele era seu filho favorito. Não teve dúvidas e decidiu agir para proteger o rapaz. A única solução que lhe pareceu viável foi a magia negra e esta exigia sacrifícios humanos. Graças à sua loja, ela tinha muitos contatos e podia escolher a dedo suas vítimas.

A primeira foi uma solteirona de 73 anos chamada Faustina Setti que vinha regularmente para saber quando encontraria o amor de sua vida. Leonarda então mentiu certo dia, dizendo que o príncipe encantado estava na cidade de Pola, mas para conseguir tê-lo, Faustina teria que vender tudo o que tinha, incluindo suas terras afim de ter algo para dar a ele. Ela também não poderia contar a ninguém sobre a notícia para nada dar errado. Por fim, induziu a mulher a escrever cartas e cartões postais à família dizendo que estava indo para Pola. No dia de sua partida, foi morta a golpes de machado depois de ter sido sedada com vinho e sedativos. Leonarda esquartejou seu corpo em 9 partes, jogou tudo numa panela e acrescentou 7kg de soda cáustica que tinha comprado para fazer sabão. Ela misturou tudo até virar uma massa, botou em baldes e jogou numa fossa séptica. Ela tinha separado o sangue numa bacia também e o deixou coagular, secou no forno, desidratou e fez bolos com aquele pó. Suas clientes, vizinhas, filhos e até ela mesma consumiram os tais bolos. Conseguiu de Faustina cerca de 30 mil liras, o que era um bom dinheiro na época. Embora a empregada Attilia tenha estranhado o terrível cheio de podre na casa e as panelas com gordura marrom fervendo, jamais suspeitou que ali tinha acontecido uma carnificina diabólica.

Dez meses se passaram até que ela escolhesse a segunda vitima. Francesca Clementina de 55 anos tinha sido enganada com a falsa promessa de que teria um emprego numa escola em Piacenza. Para não perder a oportunidade, Francesca teria que ir às pressas para a outra cidade e Leonarda cuidaria da venda de sua propriedade e de tudo que houvesse nela. Assim como a anterior, Francesca foi induzida a escrever cartas aos parentes e proibida de contar a notícia a outras pessoas, mas ela acabou contando a um vizinho. Isso não atrapalhou, na verdade, já que o país estava em guerra e o desaparecimento de pessoas não era incomum. Foi morta também a machadadas, mas seu corpo era grande demais para caber nas panelas. Sua cabeça foi cortada e colocada em um saco. Restou apenas o sabão, os bolos e 3mil liras.

Cerca de 2 meses depois, a terceira vítima foi Virgínia Cacioppo de 53 anos. A ex-cantora de ópera recebeu a falsa promessa de conseguir um emprego em um teatro de Florença. Foi morta da mesma maneira que as outras duas, embora sua gordura tenha sido melhor para os sabonetes mais “cremosos” e velas de melhor qualidade, como afirmava Leonarda. As barras de sabonete foram dadas e vendidas a vizinhos e conhecidos, sem contar os famosos bolos “temperados” que também pareceram melhores com o sangue da mulher. Desta vez conseguiu 50mil liras e muitas joias.

Albertina Fanti
O problema é que o simples fato de a cartomante começar a vender bens de outras pessoas começou a levantar suspeitas na cidade. A irmã de Virgínia que morava em Nápoles também estranhou o repentino sumiço. Albertina Fanti viajou até Correggio e deu queixa na polícia, mas nada aconteceu. Ela então começou a investigar por conta própria, até pagou para algumas vizinhas entrarem na casa de Leonarda e tentarem descobrir algo. A cartomante tinha vendido roupas e sapatos da cantora, o que fez Albertina se questionar com o que diabos sua irmã estava se vestindo em Florença. Com as provas que tem, vai até o comissário da região, apela e este abre uma investigação. Ele encontra roupas de Virgínia na casa de Leonarda e começa a questioná-la sobre o paradeiro das 3 vítimas. Quando Giuseppe é finalmente questionado, acaba confessando que ele reescreveu as cartas e cartões postais das vítimas. É imediatamente preso. Temendo pelo filho, Leonarda finalmente confessa.


Investigações posteriores encontraram ossos, dentes, pedaços de crânio e até uma dentadura na fossa da casa de Leonarda. Foram apreendidos ainda dois machados, um cutelo, um martelo, uma serra e um jornal manchado de sangue. Enquanto aguardava julgamento na prisão de San Tommaso, Leonarda escreveu um livro de mais de 700 páginas com suas memórias chamado “Confissões de uma alma amarga”. Seus relatos vão desde sua difícil infância até sua prisão, mas principalmente como confiou a vida dos filhos e do marido ao diabo. Chegou a se tornar cozinheira da prisão também, mas ninguém além das freiras que comandavam o lugar se atrevia a comer nada. Tinham medo de que a “bruxa” tivesse colocado magia no meio.

Leonarda e Giuseppe ao fundo.

Foi julgada em 1946. Repetia constantemente que tinha feito todos aqueles sacrifícios para proteger seus filhos e seu país da guerra e que em nenhum momento almejou fama e fortuna, embora a promotoria dissesse o contrário. A defesa se baseou na teoria de que Leonarda era supostamente louca, fato confirmado por um renomado psiquiatra de Roma depois. Um perito afirmou que duvidava que uma senhora de um metro e meio conseguisse esquartejar um corpo, mas ela retrucou que poderia fazê-lo sozinha em 25 minutos. Dizem as más línguas que chegaram a leva-la para um necrotério e obriga-la a esquartejar um mendigo morto, tarefa que ela supostamente conseguiu realizar em 12 minutos. Contou ainda que fazia sabão com os corpos e que aprendeu que os ossos eram péssimos porque deixavam as barras duras demais, portanto jogava os ossos nas fossas e usava o resto.


Giuseppe contou que o mau cheiro em sua casa não era incomum, afinal a fossa do banheiro era sempre um problema por lá e por isso ele nunca suspeitou de nada. Também confessou que fazia tudo que sua mãe mandava para agradá-la, principalmente depois que soube que ela tinha tentado se suicidar quando ele tinha 13 anos de idade.

Giuseppe foi absolvido por falta de provas. Leonarda foi condenada a 30 anos de prisão e 3 de detenção em um manicômio, mas na verdade nunca mais saiu de lá. Morreu em 1970, cerca de 24 anos depois de ter entrado no manicômio e seu corpo foi enterrado como indigente numa província de Nápoles. Suas ferramentas usadas para matar e fazer sabão estão expostas no Museu de Criminologia de Roma.

"Eu não matei por ódio ou ganância, mas apenas pelo amor de mãe." – Leonarda Cianciulli

Martelo, suporte para o caldeirão e um cutelo que Leonarda usou.

Uma serra, a faca e os machados usados para matar as vítimas.

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