MadBizarrice: o indecifrável código Voynich

Era 1912. O colégio Jesuíta de Villa Mondragone, em Frascati, Itália, precisava de fundos para reformas e resolveu vender alguns dos livros de sua biblioteca. Eis que surge um homem chamado Wilfrid Michael Voynich, um americano descendente de poloneses, interessado em adquirir livros antigos e raros. Revirando o baú de livros, ele acabou encontrando um excepcionalmente bizarro. Sem nome, sem autor, escrito em um alfabeto totalmente desconhecido e contendo muitas ilustrações, o livro acabou se tornando um dos mais famosos do mundo por ninguém ter conseguido decifrá-lo até hoje.


Mede 16 cm de largura e 22 cm de altura. Contém 122 folhas, num total de 204 páginas. Estudos revelaram que originalmente deveria ter 272 páginas no total. Não há nada escrito na capa, mas numa das primeiras folhas há um nome apagado que só foi possível ser descoberto graças à radiação infravermelha: Jacobi a Tepenece. Uma carta de Johannes Marcus Marci, reitor da Universidade de Praga e médico do rei Rodolfo II da Germânia, estava dentro do manuscrito. Marci enviou o livro a um amigo em Roma para decifrá-lo. Na carta ele afirma que havia herdado o livro de um amigo alquimista chamado Georg Baresch e que sabia que antes tinha sido do Imperador Rodolfo II que o havia comprado por acreditar que tinha sido algo escrito por Roger Bacon (um alquimista e mago que escreveu muitos livros de alquimia). Observando pequenas anotações em grego, Voynich datou o mesmo do século XIII.

Capa do livro.
O alfabeto não se assemelha a nenhum outro conhecido. Não há pontuação no texto, nem rasuras, já que foi escrito à mão na Idade Média e era comum ter palavras riscadas por conta de erros ortográficos. Existem 170 mil caracteres e cerca de 35 mil palavras ao todo. O livro parece ser dedicado à alquimia em geral, prática muito comum na era em que foi escrito. Alguns ainda afirmam que era um livro de farmacopedia ou técnicas medicinais da época.


O livro está dividido em 5 partes:
  • Herbário - com ilustrações de mais de 110 tipos de plantas, algumas se assemelham a plantas conhecidas como o girassol;

  • Astronômico e astrológico - mostra cerca de 25 diagramas que se referem a estrelas e signos do zodíaco;
  • Biológico - algumas ilustrações parecem se referir a certos tipos de tratamentos medicinais. Elas mostram mulheres imersas até os joelhos em vasos com um líquido escuro e outras se banhando em o que parece ser água;
  • Farmacêutico -  há diversos desenhos de frascos semelhantes aos que eram usados na época para a medicina e farmárcia. Raízes e ervas também aparecem e possivelmente eram medicinais. Contém ainda diversas receitas, mas alguns ingredientes não foram identificados.

Wilfrid Michael Voynich
Pelos tipos de desenhos e encadernamento, não há dúvidas de que tenha sido feito na Idade Média. A datação de carbono revelou que o livro vem provavelmente dos anos 1400. No entanto, a suspeita de que tivesse sido escrito por Bacon se perpetua. Na época, alquimia era uma ciência praticamente proibida e muitos a praticavam escondido. Escrever um livro sobre alquimia poderia lhe render a forca ou alguma tortura pior, por isso há suspeita de que o manuscrito tenha sido escrito em um alfabeto especialmente criado para que ninguém o decifrasse e mantivesse o dono do manuscrito e as informações a salvo. Há também a suspeita de que tenha sido escrito para "deboxar" do rei Rudolph II (que morava em Praga, na República Checa), dizendo-lhe que era um livro raro e misterioso, quando na verdade não passava de uma farsa que algum mago tivesse escrito para ganhar muito dinheiro com a venda do livro para ele. Outro possível autor do manuscrito era John Dee, um aficcionado em criptografia, amigo do rei e fã do Roger Bacon. Há registros de que ele tenha vendido o livro para o rei por uma fortuna, mas nada diz que ele o escreveu. Desde então, o livro vem sendo herança de muita gente, inclusive um outro alquimista chamado Jacobi, até cair nas mãos de Marci, que o envia a Roma para seu amigo Athanasius Kircher decifrá-lo. No entanto, Kircher falha e o livro desapareceu antes de sua morte. Finalmente Voynich o encontra por um acaso no baú de um monge e novamente o livro vira o centro das atenções. Ninguém faz ideia de como o livro chegou na Itália.

Centenas de especialistas em criptografia analisaram o livro, inclusive os maiores e melhores especialistas norte-americanos e britânicos tentaram decifrá-lo na época de segunda guerra, mas todos, sem exceção, falharam. Milhares de teorias surgiram desde então, desde que o manuscrito tenha sido escrito em línguas arcaicas, até mesmo que tenha sido escrito em mais de um tipo de criptografia.


Após a morte de Voynich, sua esposa o deu ao seu sócio, que o vendeu para um amigo. Este por sua vez, tentou tirar vantagem, colocando um preço absurdamente alto e por isso fracassou em vendê-lo, doando mais tarde para a Biblioteca Beinecke de Yale, nos Estados Unidos, onde permanece atualmente o misterioso Código Voynic guardado às 7 chaves. Ele ainda é estudado, mas nenhuma conclusão definitiva ainda surgiu em meio a todo esse mistério de séculos. O History Channel fez um brilhante documentário sobre o livro, veja abaixo:


Se você está interessado em ver de perto o tal livro, fique sabendo que será impossível a menos que consiga uma autorização especial da biblioteca. Mas se você quer mesmo ver o livro de qualquer jeito, pode vê-lo em alta definição fornecido pela própria biblioteca de Yale. Veja aqui.
Se quiser, pode clicar aqui e pedir pro plugin de pdf do seu navegador (adobe reader, foxit, entre outros...) salvar uma cópia em seu computador. Clique aqui.

Tente decifrá-lo se puder!

Liuka

É uma verdadeira draga de coisas inúteis e ao mesmo tempo interessantes.

5 comentários:

  1. MUUITO BOM O TEXTO!! Não sabia da existência deste livro, com certeza, a partir de agora vou passar a pesquisar mais sobre ele! Adorei os links também, muitíssimo obrigado senhorita Liuka, já estou salvando pro meu pc pra analisar! É uma grande excitação saber que havia um livro extremamente indecifrável assim, e ainda há. E por certo, existem muitos outros. O Necronomicon que o fabuloso H.P.Lovecraft sempre fala, com certeza existiu. Sei lá, pelo menso eu gosto de acreditar que realmente existiu, já que seitas ocultas podem existir a qualquer lugar do mundo sem que saibamos.
    Eu tenho uma ideia de como "TALVEZ" começar a decifrar o livro, é claro, muitos estudiosos já deve ter tentado isso, mas é um primeiro passo valido a se tentar. Se analisar bem as raízes e ervas que existem no livro, da para tentar encontrar semelhanças em algumas letras e passar para o latim, do latim ir traduzindo. É claro, não é fácil fazer com 170 mil caracteres, mas, os alquimistas não iam deixar tanto conhecimento em um livro sendo que ele não poderia ser decifrado pro alguma mente brilhante no futuro.
    Adoro este blog, ganham um leitor assíduo, não só por esta postagem, mas por outras extremamente interessantes que já vieram.

    :)

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    Respostas
    1. Muitíssimo obrigada, # Fowl! Eu também tenho um enorme interesse em tentar decifrar esse código, mas a criptografia é mais complexa do que parece. De qualquer forma, desejo sorte na sua tentativa de decifrar ele. E sobre o Necronomicon, eu já falei dele aqui no blog também quando expliquei o que era Necromancia (http://umadblog.blogspot.com.br/2013/01/madbizarrice-necromancia.html).

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    2. YO! Acabei de ler o texto sobre necromancia que tu escreveu, que fodastico!!! [também joguei Morrowind :D], sempre me interessei por Necromancia por causa dos livros de RPG, e os livros do Lovecraft, mas enfim, isso é papo pra outra hora. Sim, esta criptografia do Voynich é MASTER difícil. Vi o livro todo e não tem nenhuma brecha onde se possa imaginar para tirar uma letra se quer como base pra continuar. Afinal, se os especialistas não conseguiram, eu é que não vou conseguir em uma tarde vazia né... Mas mesmo assim, agradeço a tua resposta, é bom encontrar um blog com um conteúdo tão fantástico e ainda ser respondido!!! Ah, obrigado também por me desejar sorte pra tentar decifrar, mas deixa pra lá, tem tanta coisa melhor pra se fazer na vida e a vida é curta demais pra ficar quebrando a cabeça com uma criptografia feita por um [suposto] alquimista do passado que queria esconder o conteúdo de seus estudos... '-'

      Estarei por ai, até :)

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    3. Eu avisei, essa criptografia é impossível! Ainda sim o mistério sobre ela não deixa de ser fascinante! Obrigada mais uma vez pelos elogios, é muito bom ver que o nosso esforço em fazer um blog com um conteúdo diferente e interessante está valendo a pena. Se quiser se manter atualizado sobre os posts, temos uma página no Facebook onde postamos as últimas novidades sempre. Se tiver sugestões de temas que queira ver por aqui, fique à vontade para nos enviar pelos comentários ou pela aba de Contato ou até mesmo pelo email umadblog@gmail.com :D

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    4. Claro, claro, já "curti" vocês lá no facebook, to acompanhando tudo agora! ;D
      Valeu pela atenção!

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